Novo Testamento é traduzido em “fala”, língua comum de 6.000 estremenhos
Novo Testamento é traduzido em “fala”, língua comum de 6.000 estremenhos
Os cerca de 6.000 espanhóis – todos eles estremenhos – que usam ‘fala‘, descrita na Carta Europeia de Línguas Minoritárias, já podem ler o Novo Testamento em seu idioma comum, que utilizam diariamente para falar e dialogar.
“Benaventuraus os que tenin fomi i sé de xusticia, porque elis serán saciaus” (Mateo 5,6) e “I tomó pan i dó gracias, i o partí i le dó, idendu: Esti é o mei corpu, que por vós é dau, fei istu en memoria miña” (Lucas 22,19) são alguns dos versículos do Novo Testamento que podem ser lidos em ‘fala’.
Declarada Bem de Interesse Cultural (BIC) Imaterial pela Junta da Extremadura, a ‘fala’ constitui o único caso de bilinguismo nesta comunidade autônoma e seu uso só é localizado nos povoados de Valverde du Fresnu (Valverde del Fresno), As Ellas (Eljas) e Sa Martín de Trevellu (San Martín de Trevejo), em Cáceres (ver mapa do Ethnologue aqui).
Embora muito tenha se debatido sobre sua origem, os estudiosos deste dialeto, segundo afirmam alguns linguistas, sustentam que a ‘fala’ possui substratos linguísticos de português, galego, castelhano e, inclusive, leonês, que a formaram na Idade Média.
“É uma língua que se transmitiu oralmente de pai para filho, e agora, vários séculos depois, se está trabalhando em uma norma gramatical e de escrita”, explicou à Agência o coordenador da Área de Comunicação da associação “A Nosa Fala”, Francisco José Antúnez.
Há pouco tempo esta associação liderou a publicação de “O Pequeno Príncipe” nesta língua, agora é a vez do Novo Testamento, cuja tradução para ‘fala’ exigiu dez anos de trabalho, graças ao esforço feito pela citada associação em parceria com a Promotora Española de Lingüística (Proel) e a Sociedade Bíblica da Espanha (SBE).
A Sociedade Bíblica trabalha para que as Escrituras circulem ao redor do mundo, que cheguem às igrejas, mas também às pessoas em suas diferentes culturas e cosmovisões, enquanto a Proel, organização registrada no Ministério do Interior, colabora com várias entidades para impulsionar o desenvolvimento linguístico das línguas minoritárias.
Embora tenham participado desta obra um tradutor católico, outro evangélico e um consultor de tradução e exegese, boa parte do peso do trabalho recaiu sobre Domingo Frades Gaspar, morador de San Martín e ex-presidente da associação “Fala i Cultura”.
Apesar de a publicação do Novo Testamento em ‘fala’ ser um caminho para divulgar “a palavra de Deus entre os falantes desta língua”, como assinala a SBE, esta obra é uma peça importante no desafio traçado pelas associações citadas de elaborar uma gramática, “uma ortografia”.
De fato, a ‘fala’ apresenta variações em função do povoado no qual o falante se encontre. O dialeto é denominado ‘valverdeiro’ em Valverde del Fresno: ‘lagarteiro’ em Eljas e ‘manhego’ em San Martín de Trevejo.
“É necessário redigir uma ortografia comum e oficial”, disse Antúnez. No entanto, há quem sustente que não existe uma base científica, nem elementos suficientes para constituir essa gramática comum “com uma linguagem misturada”.
À margem destas questões, a ‘fala’ é ouvida no comércio e nos bares destes três municípios, lida nas placas das ruas e refletida em órgãos municipais.
O conselho de Cáceres destinou este ano 148.400 euros para desenvolver apresentações no Parque Cultural Sierra de Gata, entre as quais se inclui a criação de um centro de divulgação da ‘fala’.
A apresentação do Novo Testamento em ‘fala’ aconteceu recentemente na igreja da paróquia de San Martín de Trevejo, com a presença do bispo de Coria-Cáceres, Francisco Cerro.
Fonte: Portal Terra