Morre Joshua Fishman, um dos fundadores do campo da sociologia da linguagem e um estudioso de planejamento linguístico e educação bilíngue

FishmanJoshua Fishman (1926-2015)

Joshua Fishman, um dos fundadores do campo da sociologia da linguagem e um estudioso altamente influente nas áreas de planejamento linguístico e educação bilíngue, morreu no último 01º/03 à noite em sua casa no Bronx aos 88 anos. A nota a seguir, escrita por Ofelia García (professora nos programas de doutorado em Educação Urbana e de Literaturas e Línguas Hispânicas e Luso-brasileiras do Centro de Pós-Graduação da Universidade da Cidade de Nova York), foi compartilhada no Facebook e em The Linguist List.

Um professor amado e estudioso influente, Joshua A. Fishman morreu serenamente em sua casa no Bronx, na segunda-feira à noite, 1º de março de 2015. Ele tinha 88 anos. Joshua A. Fishman deixa para trás sua esposa dedicada, Gella Schweid Fishman, três filhos e noras, nove netos e dois bisnetos. Mas ele também deixa para trás milhares de estudantes em todo o mundo, que aprenderam muito com ele sobre sociologia da linguagem, o campo que fundou, e também sobre a possibilidade de ser um estudioso generoso e comprometido com as comunidades de minorias linguísticas. Como uma vez disse ele, sua vida foi o seu trabalho e seu trabalho era sua vida.

Joshua A. Fishman, apelidado Shikl, nasceu na Filadélfia-PA em 18 de julho de 1926. O iídiche era a língua da sua casa de infância, e seu pai perguntava regularmente a sua irmã, Rukhl, e a ele: “O que você fez para o iídiche hoje?” A luta pelo iídiche na vida judaica foi o impulso para seu trabalho acadêmico. Depois de se formar na Universidade da Pensilvânia, com um mestrado em 1947, ele colaborou com seu amigo, Max Weinreich, o decano da linguística iídiche, em uma tradução da história do iídiche, de Weinreich. E foi através do iídiche que ele se voltou para outro de seus interesses – o bilinguismo. Em 1948 recebeu um prêmio do YIVO Institute for Yiddish Research por uma monografia sobre o bilinguismo. O iídiche e o bilinguismo eram interesses que desenvolveu ao longo de sua vida acadêmica.

Depois de concluir um doutorado em psicologia social pela Universidade de Columbia em 1953, Joshua Fishman trabalhou como pesquisador para o College Entrance Examination Board. Esta experiência direcionou seu interesse para atividades educacionais, o que o encaminhou a uma outra vertente de seu trabalho acadêmico – a educação bilíngue. Foi nessa época que ele lecionou no que veio a ser o primeiro curso de sociologia da linguagem no City College de Nova York. Em 1958, foi nomeado professor de relações humanas e psicologia na Universidade da Pensilvânia, e dois anos mais tarde, mudou-se para a Universidade de Yeshiva. Na Universidade de Yeshiva foi professor de psicologia e sociologia, reitor da Escola de Pós-Graduação Ferkauf de Ciências Sociais e Humanas, vice-presidente acadêmico e professor de pesquisa em Ciências Sociais. Em 1988, tornou-se professor emérito e começou a dividir o ano entre Nova York e Califórnia, onde se tornou professor visitante de educação e linguística na Universidade de Stanford. No decorrer de sua carreira, Fishman manteve uma agenda de visitas a mais de uma dezena de universidades nos EUA, Israel e Filipinas, com bolsas de estudo no Centro de Estudos Avançados (Stanford), no East West Center (Havaí), no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, no Instituto Holandês de Estudos Avançados e no Instituto de Estudos Avançados de Israel.

Ao longo de sua longa carreira Joshua A. Fishman publicou aproximadamente uma centena de livros e mais de mil artigos. Ele não foi apenas prolífico, como suas ideias originais e complexas tornaram-se muito influentes na academia, sendo extremamente úteis para as minorias linguísticas através do mundo. Seu primeiro grande estudo de sociologia da linguagem, Language Loyalty in the United States, foi publicado em 1964. Um ano depois, publicou Yiddish in America. Em 1968, publicou a primeira coleção importante a lidar com política e gerenciamento linguísticos, Language problems of developing nations. No mesmo ano, editou e publicou Readings in the sociology of language, uma primeira tentativa de definir o novo campo.

Na década de 1970 o trabalho de Joshua Fishman foi reconhecido em todo o mundo por sua importância e sua relevância sobre as questões de linguagem predominantes na sociedade. Em 1973, ele fundou, e desde então passou a editar The International Journal of the Sociology of Language, uma revista de excelente reputação internacional. Joshua Fishman também editou uma série de livros publicada pela Mouton, Contributions to the Sociology of Language (CSL), com mais de 200 títulos. Em ambos os empreendimentos Fishman incentivou jovens estudiosos a pesquisar, escrever e publicar, apoiando e contribuindo para as carreiras acadêmicas de muitos em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento. Durante anos, respondeu diariamente a cartas e e-mails de estudantes de todo o mundo. Sua maior motivação foi dialogar com muitos sobre o uso da linguagem na sociedade e respondendo a perguntas dos alunos. O mundo era a sua sala de aula.

Enquanto realizava um impressionante conjunto de pesquisas, sendo atencioso aos muitos que lhe pediam conselhos, Fishman viajou muito, incentivando as atividades daqueles que procuram preservar línguas ameaçadas. Ele será lembrado pelos maoris da Nova Zelândia, os catalães e bascos da Espanha, os navajos e outros nativos americanos, os falantes de quechua e aymará na América do Sul e muitos outros grupos de línguas minoritárias por seu entusiamo e incentivo. Por 25 anos, escreveu uma coluna em sociolinguística iídiche em cada edição do trimestral Afn Shvel. Ele também escreveu regularmente sobre o iídiche e temas sociolinguísticos gerais para o semanário Forverts. Junto com sua esposa Gella Fishman, criou o “Fishman Family Archives”, extensivo a cinco gerações, na biblioteca da Universidade de Stanford. Em 2004 recebeu o prestigioso Prêmio UNESCO Linguapax em Barcelona, ​​na Espanha.

O registro prolífico de pesquisas e publicações de Joshua Fishman continua até hoje, definindo estudos atuais em bilinguismo e multilinguismo, educação bilíngue e de minorias, relação entre linguagem e pensamento, sociologia e história social do iídiche, política e planejamento linguísticos, mudança e manutenção linguísticas, língua e nacionalismo, língua e etnia, inglês pós-imperial, línguas em Nova York, e esforços étnicos e nacionais para reverter a mudança linguística.

Seu trabalho acadêmico com grupos minoritários e com os outros envolvidos na luta para preservar suas línguas, culturas, tradições foi inspirado por uma compaixão profunda e sincera que é sempre evidenciada pelo tom marcadamente humano de sua escrita acadêmica mais objetiva.

Fonte: Language Log

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