Futuros dentistas aprendem Libras para melhorar atendimento a surdos
Trabalho realizado na USP em Ribeirão Preto capacita alunos para se comunicar de forma efetiva com essa população
Segundo o censo demográfico de 2010, no Brasil, mais de 2 milhões de pessoas têm deficiência auditiva severa. Para atender essa população, alunos da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP estão aprendendo a Língua Brasileira de Sinais (Libras), reconhecida como meio legal de comunicação e expressão no País. O objetivo é melhorar a interação entre paciente e profissional de saúde, contribuindo para a adesão ao tratamento e na prevenção de doenças bucais.
A unidade oferece curso de Libras para os alunos de graduação desde 2016, em parceria com a Associação de Surdos de Ribeirão Preto. “Percebemos que precisávamos de um tempo maior para preparar os nossos alunos para se comunicarem com os surdos e não simplesmente por meio de mímica. Foi assim que iniciamos o programa educativo sobre higienização bucal e das próteses odontológicas para surdos”, explicou a professora Alma Blásida Concepción Elizaur Benitez Catirse, uma das responsáveis pelo projeto.
Ela conta que a expectativa com o projeto é formar profissionais com referência em Libras e capazes de atender esses pacientes em seus respectivos consultórios. “A ideia é capacitar os alunos para uma comunicação efetiva e, consequentemente, promover a saúde bucal entre pessoas desse grupo sociocultural e linguístico.”
Inicialmente, as aulas de Libras na Forp eram realizadas uma vez por semana, com duração de uma hora, mas, com o interesse dos alunos, as aulas passaram para duas horas semanais. “Hoje temos a participação de 22 alunos por semestre e os resultados já começam a aparecer. Três dos alunos que iniciaram a atividade no ano passado já ministram palestra e workshop com orientações em pequenos grupos sobre a importância da boa higiene bucal, as técnicas de escovação dos dentes e das próteses na Associação de Surdos de Ribeirão Preto”, comemora a professora Alma.
A professora Ana Cláudia trabalha com as comunidades surdas há anos e é responsável pelas discussões relativas à educação de surdos e pelo ensino de Libras em todos os cursos de licenciatura da FFCLRP e no curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP). “Quando o projeto me foi apresentado, não vi como ficar de fora de algo voltado ao atendimento, na área da saúde, aos surdos. É muito bom saber que alunos da área da saúde têm se interessado pela questão linguística dos surdos para que, futuramente, possam atender essas pessoas adequadamente.”
Veronica Gonzalez, graduanda da Forp, participa do grupo de estudos coordenado pela professora Alma há três anos, mas só neste ano iniciou as aulas de Libras. “Ao longo deste tempo participei de vários projetos de prevenção e instrução de higiene bucal. Comecei a atender pacientes surdos este ano e ainda tenho muita coisa para aprender em Libras, mas a comunicação está sendo efetiva e os atendimentos são um sucesso.”
Por Vitor Neves do Jornal da USP
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