Especialistas divergem em relação ao acordo ortográfico

Especialistas divergem em relação ao acordo ortográfico

Elina Rodrigues Pozzebom e Iara Guimarães Altafin

Bechara e Pimentel, com o senador Cyro Miranda ao centro, divergiram em relação a novas mudanças (Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Bechara e Pimentel, com o senador Cyro Miranda ao centro, divergiram em relação a novas mudanças (Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Em debate nesta terça-feira (21) na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), o gramático Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), defendeu o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, enquanto Ernani Pimentel, presidente do Centro de Estudos Linguísticos da Língua Portuguesa, cobrou maior simplificação gramatical.

As regras do acordo já são adotadas no país, por exemplo por editoras, mas só serão obrigatórias a partir de 2016. Pimentel, no entanto, é contra as mudanças, argumentando que não houve diálogo com a sociedade e com quem atua na área.

Ele lidera movimento para adoção de critério fonético na ortografia, ou seja, a escrita das palavras orientada pela forma como se fala. Por esse critério, a palavra “chave”, por exemplo, seria escrita com x (xave), sem preocupação em considerar a etimologia.

– O ensino baseado na etimologia, na pseudoetimologia, é dos séculos que se foram. Podemos agora discutir formas mais objetivas e racionais – diz Pimentel, ao afirmar que a simplificação evitaria que as novas gerações sejam submetidas a “regras ultrapassadas que exigem decoreba”.

Em sentido oposto, Evanildo Bechara considera que a simplificação fonética, “aparentemente ideal”, resultaria em mais problemas que soluções, pois extinguiria as palavras homófonas – aquelas que têm o mesmo som, mas escrita e significados diferentes. Como exemplo, ele citou as palavras seção, sessão e cessão, que ficariam reduzidas a uma só grafia – sesão –, o que prejudicaria a compreensão da mensagem.

– Aparentemente teríamos resolvido um problema ortográfico, mas criaríamos um problema maior na função da língua, que é a comunicação entre as pessoas – frisou.

Facilitação no ensino
No debate, Pimentel afirmou que a simplificação da gramática tornaria mais eficiente e racional o ensino da língua portuguesa nas escolas, facilitando o aprendizado e reduzindo custos. Ele ressaltou que simplificação já conta com 36 mil apoiadores, entre professores e alunos do ensino médio e superior.

Já Bechara disse que, para a ABL, dificuldades na alfabetização e no ensino da língua escrita não se resolvem com a simplificação ortográfica. Se fosse assim, afirmou, seria grande o número de analfabetos na França e na Inglaterra, uma vez que as ortografias francesa e inglesa estão entre as mais complicadas. Ao contrário, observou, são países que estão “na vanguarda da civilização”, resultado de escolas de qualidade e professores competentes.

Na opinião do gramático, o acordo ortográfico reúne qualidades e representa um avanço para o uso do idioma e para unificar regras entre os países lusófonos. Ele ressaltou que os países que assinaram o acordo poderão, depois da implementação das novas regras, aprovar modificações e ajustes, caso necessário.

Também Thais Nicoleti, consultora de língua portuguesa da Folha de S. Paulo e do portal UOL, elogiou mudanças promovidas pelo acordo ortográfico. Ela pediu, por outro lado, que o ensino do português nas escolas seja aprimorado, com exigência de mais leitura.

– A criança deve ser levada a ler, para que saiba se comunicar oralmente e por escrito. Temos que mudar nossas aulas, e não mudar a língua para ficar mais fácil de ensinar – criticou.

Adesão ao acordo
Ao comentar relatos de resistência ao acordo ortográfico em Portugal, Bechara afirmou que as críticas seriam localizadas e que revelam desconhecimento das mudanças propostas. Ele destacou que as novas regras têm a aprovação dos especialistas que representam Portugal nos fóruns de discussão do assunto.

Quanto à dificuldade de adesão em Angola e Moçambique, o gramático considera normal que implantação do acordo seja mais demorada nesses países, devido à existência de diversas línguas locais, ao lado do português.

Leia também a opinião do atual Presidente da Comissão do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) no Brasil, prof. Carlos Alberto Faraco:

Fonte: Senado Notícias

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