Escola Carlos Moreira pode ser a única do Estado a incluir aulas de Língua Pomerana no currículo
Em meio à uma época de intensa propagação de informação e significativa modernização de costumes, dado o progresso tecnológico, um projeto ambicioso desenvolvido há cerca de 5 anos no município de Canguçu, se preocupa em conservar o que não deve se perder no tempo: a cultura.
Enquanto a maior parte dos alunos opta pelo inglês ou pelo espanhol, tanto no ensino fundamental, quanto no médio, para 60 alunos do sexto ao nono ano da Escola Municipal Carlos Moreira, a opção preferida passou bem distante das línguas mais tradicionais. Desde o início deste ano letivo, a escola passou a oferecer uma disciplina inédita na rede municipal e, segundo a professora Tanise Stumpf, provavelmente, no Estado: a Língua Pomerana.
Em 2010, a Câmara Municipal de Vereadores aprovou a cooficialização da língua pomerana. A lei oportuniza as escolas municipais a trabalharem a língua dentro do currículo escolar, registrada no Plano Político Pedagógico.
— Eu lutei anos para que isso acontecesse, e agora eu consegui. A Escola Carlos Moreira é atualmente, a única escola do Rio Grande do Sul que trabalha a língua pomerana no currículo. E Canguçu novamente se destaca pela valorização cultural. Além disso, o conhecimento da língua, é um dos pré-requisito mais presentes nas oferta de emprego nos comércios do Município. — explicou a educadora.
Segundo a professora, a busca surgiu há cerca de 5 anos, quando conseguiu incluir a disciplina na Escola Estadual João de Deus Nunes, e percebeu a comunidade escolar embarcando em um sonho coletivo: fortalecer a fala e promover a escrita da língua pomerana nos jovens, e reconstruir a confiança dos mais velhos em se comunicarem em sua língua de origem, sem que se envergonhem.
O material didático, elaborado por uma Professora do Espírito Santo, norteou a forma de lecionar a disciplina, partindo do ensino do mais básico de uma nova lingua: dias da semana, números e meses.
— O estudo da língua tem como base o dicionário de língua pomerana, desenvolvido pelo professor Ismael Tessman após 20 anos de pesquisa. É como o ensino de qualquer outra língua: Abrange desde coesão e coerência, até a explicação da escolha do uso do trema ou do ‘a coroado’. — salientou Tanise.
A disciplina foi ofertada aos alunos do ensino médio, até o ano passado na escola. Neste ano ela saiu do currículo, devido a alteração da base comum curricular, estabelecida pela 5ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) para as Escolas Estaduais. Segundo Tanise, a escola foi a única de toda a rede estadual a ofertar a disciplina.
Na época, Tanise percebeu que, a partir da inserção do estudo da língua pomerana no currículo da escola, percebeu um significativo aumento de alunos usando a linguagem no intervalo entre as aulas.
Além da linguagem, a cultura também é trabalhada dentro da disciplina. Dentro do Projeto ECOVIVER, criado em 2006 pelo Grupo Ecorodovias e viabilizado pela Lei Rouanet do Ministério da Cultura, visando estimular a conscientização ambiental nas comunidades escolares de ensino fundamental, os alunos demonstraram como seria um Casamento Pomerano Sustentável.
Segundo a professora, em um tempo não muito longínquo, o convite era enviado de casa em casa pelo irmão da noiva, fosse de bicicleta ou a cavalo. As decorações eram feitas com palmas e camélias. A churrasqueira era de tijolos e os espetos de madeira. O bolo era mais simples, menos arquitetado, e feito em casa, pelas mulheres da família.
— A língua materna está dentro da alma e ela não pode morrer. Muitos dos alunos que tive, sabiam falar a língua mas não sabiam escrever. Os pomeranos são ensinados desde pequenos pelos pais a falarem a língua, para que aprendam e mantenham a tradição. Hoje, eles estão começando a perceber sua importância. Toda essa minha luta para manter viva a tradição, é feita pelo amor que eu tenho pela minha comunidade escolar e pelo meu povo. — concluiu a professora.
— Conteúdo especial produzido em parceria com o Jornal Tradição
Fonte: Canguçu Notícias
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