Eleição também é assunto de índio: ‘Queremos votar’

Integrantes da tribo Krukutu relatam preocupação com baixa representatividade indígena na política

A campanha eleitoral começou oficialmente. Já é possível ver bandeiras, faixas e panfletos pelas ruas da região. Mas há um local no Grande ABC que parece estar alheio à toda movimentação eleitoral, mas isso não quer dizer que quem vive ali não se preocupa com política.

A equipe do Diário esteve na aldeia Krukutu, na divisa entre São Bernardo e Capital, conversou com a população indígena e se deparou com pessoas que se importam com política e fazem questão de participar do cenário eleitoral.

“O índio é tido como alheio ao que está acontecendo, como se não quiséssemos participar do que o homem branco faz ou organiza. Também queremos escolher nossos representantes”, discorreu o krukutu Olívio Jekupe, 53 anos. Uma das lideranças da aldeia, Jekupe crava: “Também queremos votar”.

O tempo parece não andar na aldeia situada no meio de uma pequena mata entre os bairros do Tatetos, em São Bernardo, e Parelheiros, na Capital. Morando em casas simples e vivendo do que se planta e caça nas redondezas, a população indígena conversa sobre política e eleições e fecha questão sobre procurar candidatos que prezam pela causa dos índios e do meio ambiente.

“Eu acabei de tirar meu título de eleitor e ainda não tenho a obrigatoriedade de votar. Tirei (o título) porque eu quero poder escolher um candidato”, comentou Jeguaká Mirim da Silva, 17. Uma das reclamações do jovem índio é a de falta de candidatos realmente indígenas. “Queremos e temos o direito que nos ouçam. Também somos brasileiros.”

Para o professor e cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando, assim como outras minorias brasileiras, os índios procuram candidatos que comungam de pensamentos e ideais. Com a estratégia e afinidade, as minorias teriam representatividade entre os políticos, o que traria alguma esperança para resolução de seus problemas. “Os indígenas formam uma camada invisível da população. Nada mais justo que busquem candidatos e políticos alinhados a sua maneira de pensar e viver”, argumentou.

A maioria dos índios abordados pela equipe do Diário comentou que um dos poucos governos que realmente “fizeram alguma coisa” na aldeia foi o da ex-prefeita da Capital e atual senadora Marta Suplicy – que recentemente anunciou aposentadoria da política –, quando ela atuava como chefe do Executivo de São Paulo, ainda pelo PT, entre 2001 e 2004. À época, a então prefeita construiu um centro de convivência para os índios. Desde lá, os governos pouco fizeram pela aldeia Krukutu.

“É notório que governos alinhados mais à esquerda acabam pensando nas populações menos favorecidas. Não me surpreende que os indígenas acabem lembrando da Marta e do (ex-presidente Luiz Inácio) Lula (da Silva, PT), por exemplo”, pontuou professor Rodrigo Prando.

Além de minoria na população, já que são 800 mil indígenas no Brasil, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o número de candidatos que se autoproclamaram índios nas eleições de 2018 é de apenas 129 – o que representa 0,46% do universo de postulantes do País, dominado por brancos (53% do total) e pardos (35%). Ainda segundo o tribunal, o índio, como todos os cidadãos brasileiros, deve votar se tiverem mais de 18 anos e for alfabetizado em língua portuguesa. No entanto, caso os índios que vivem nas aldeias optem por não votar, a decisão individual deve prevalecer sobre a obrigatoriedade da lei brasileira.

No Grande ABC há um candidato indígena. Raimundo Nouzinho, 53, o Raimundo do ABC, mora em Diadema e busca vaga de deputado estadual pelo Democracia Cristã. É tupi-guarani e nasceu em aldeia no Maranhão. Vivendo há 30 anos na região, é evangélico. “Apesar de viver há mais tempo na cidade, ainda me considero índio e tenho respeito pelas minhas tradições”, disse. Pertencendo a uma sigla com viés conservador, Raimundo é contra a legalização do aborto e das drogas, mas é contra também a liberação das armas. “Acredito que Educação e Cultura são bem mais importantes que arma na mão”, pontuou.

Cacique Juruna, primeiro deputado federal indígena e eleito com 31 mil votos no ano de 1981, pelo PDT, ainda mora na lembrança da população indígena como antigo herói. “A imprensa mentiu muito sobre a situação do Juruna. Ele foi muito injustiçado na política”, comentou Olívio Jekupe, argumentando que jornalistas e deputados caçoaram da “ingenuidade” dele.

O cacique Paulinho Paiakã também foi um dos citados pelos índios quando o assunto era política aos índios. Apesar de não exercer nenhum cargo político, Paiakã recebeu notoriedade após participar, de forma indireta, da ECO-92, encontro realizado por diversas nações para debater a questão ambiental no mundo. Recebeu condolências internacionais. Deu conferências em Genebra, na Suíça, e ganhou prêmio em Nova York, nos Estados Unidos. No auge de sua notoriedade, Paiakã afirmou que queria seguir os passos de Juruna e se candidatar a deputado. A trilha nunca foi seguida, já que tempos depois o índio foi acusado de estupro.

Sônia Guajajara, candidata a vice-presidente na chapa com Guilherme Boulos (Psol), também veio à memória dos krukutus. “Eu votaria no Boulos por causa da Guajajara sim. Ela parece ser uma mulher forte, uma mulher guerreira. Só sendo muito guerreira para enfrentar o homem branco na política”, bradou a jovem krukutu Kerexu Mirim da Silva, 22.

Fonte: Diário do Grande ABC

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