Da documentação de línguas para uma política de gestão da diversidade linguística

A notícia do link a seguir, veiculada nas grandes mídias nos últimos dias, dá conta da gravação de registros linguísticos em comunidades indígenas da Amazônia por pesquisadores australianos através de smartphones.

Segundo a fonte, com o objetivo de preservar as línguas indígenas no Brasil, o pesquisador que coordena o projeto, Steven Bird, professor da Universidade de Melbourne, percorre aldeias realizando registros da literatura oral.

Projetos como este, que visam a gravação de dados linguísticos, especialmente desenvolvidos por instituições estrangeiras, são muito frequentes com as línguas indígenas brasileiras. No entanto, pelo que se observa com relação aos dados alarmantes de línguas em situação de perigo, a documentação por si não garante a preservação ou a não-extinção desses idiomas. Mais do que documentar, há uma série de estratégias que se fazem necessárias para garantir que uma língua minoritária não seja extinta, e, qualquer ação para a gestão do conhecimento de uma língua que intente ser eficaz para sua preservação, deve se pautar no desejo e na participação dos seus falantes.

Para garantir que uma língua não seja extinta, é condição sine qua non que os seus falantes tenham garantias de condições materiais e simbólicas que lhes permitam viver, e viver bem! Que sua participação na gestão de sua(s) língua(s) não fique restrita à posse de artefatos linguísticos que lhes são destinados, mas que sejam agentes das políticas linguísticas, culturais, econômicas e sociais que lhes dizem respeito. Essas possibilidades de agenciamento estão intrinsecamente ligadas ao plano politico do Estado, àquilo que nele se forja como espaço de atuação e promoção das comunidades linguísticas. Essas possibilidades foram vislumbradas, no Brasil, pelo movimento social que conduziu à Política do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) instituída em 2010, e agora em implementação pelo IPHAN.

Podendo ser considerada a primeira política linguística estatal e nacional voltada para o fomento das línguas brasileiras (não somente indígenas), o INDL abre a possibilidade de construirmos no Brasil, um instrumento público de promoção e salvaguarda das línguas e, ao mesmo tempo, um espaço para identificação de demandas sociais e prospecção de políticas articuladas entre si, sustentadas na participação de instituições governamentais e civis, no envolvimento das comunidades linguísticas e na potencialização das variadas iniciativas de documentação linguística, uma vez que os instrumentos linguísticos gerados por elas podem ser amplamente socializados.

Salutar seria, então, que o debate sobre a proteção ou salvaguarda de línguas no Brasil pudesse apreciar as variadas soluções que tem sido propostas e conduzir a estratégias elaboradas dentro de um planejamento (social, político e orçamental) consistente, em diálogo amplo com a sociedade.

Projeto usa smartphone para preservar línguas indígenas na Amazônia
Software possibilita que línguas de comunidades remanescentes possam ser ouvidas, compreendidas e aprendidas por gerações futuras

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