Conheça os youtubers surdos que reúnem milhares de seguidores
Um detalhe que faz toda a diferença: legendas em vídeos no YouTube. Sem elas, pessoas com deficiência auditiva não conseguem acompanhar o que está sendo dito. Com elas, os surdos são incluídos e passam a ter acesso aos conteúdos pelos quais se interessam no ambiente digital. Percebendo que muitos dos canais na rede não tinham essa alternativa — e com um talento nato para a coisa — youtubers surdos vêm ganhando a cena. Com a Libras (Língua Brasileira de Sinais) e as legendas, conquistam milhares de seguidores. E além de receberem o carinho dos internautas, informam e motivam.
Um desses é o divertido canal da Kitana Dreams. Quase dez mil pessoas estão inscritas para acompanhar as publicações da “drag queen surda, carioca e escorpiana”. Ela é interpretada por Leonardo Braconnot, youtuber, maquiador e artesão. Em seus vídeos, em que se comunica por Libras, ele dá dicas de maquiagem, faz desafios e discute temas atuais.
— Criei o canal para a comunidade surda e para surdos LGBTs. E, claro, para os ouvintes. Não foi com um objetivo específico, mas para me sentir parte da sociedade. Tomou um rumo tão grande… As pessoas foram se apaixonando pela Kitana — conta Leonardo, que nasceu surdo, é oralizado e faz leitura labial. — O canal é da Kitana. O Léo só aparece quando não tem tempo de se montar.
A hoje já consagrada Kitana nasceu em 2007, quando Léo tinha 18 anos. Enquanto assistia a tutoriais de maquiagem no YouTube, deparou-se com canais de drags. A identificação e a vontade de fazer igual foram instantâneas. Desde então, já gravou mais de 80 vídeos e não pretende parar mais.
Para publicar um vídeo por semana, ele não trabalha sozinho. Tem a ajuda do marido e, às vezes, da tia. O companheiro cuida da montagem do cenário e ela dos textos. Leonardo, que se diz perfeccionista, fica com a edição, a montagem e as legendas. Um trabalho que lhe rende um carinho enorme de seus “fãs”.
— Recebo vários comentários me elogiando. Sinto que as pessoas gostam muito do que eu faço — diz ele.
De outro canto do país, mas próxima graças às redes, Larissa Jorge, que é de Imbituba, em Santa Catarina, mostra em seu canal “o mundo dos surdos, cultura, maquiagem e beleza”. A ideia surgiu quando ela, em uma pesquisa sobre maquiagem, descobriu um mundo de informações na internet. Esse universo, entretanto, não era tão acessível para Larissa, que perdeu a audição aos 8 meses.
— Assistia sem parar para entender as técnicas, mas imagina a dificuldade que tinha para entender? Percebi que outras meninas surdas também não tinham acesso a esse mundo que parece tão “normal”. Por que não poderíamos estar lindas com técnicas superfáceis? — questiona.
Larissa então buscou facilitar o acesso às informações. Com mais de 30 mil inscritos em seu canal, ela se comunica por Libras nos vídeos e coloca legendas em todos eles. Os elogios são muitos, mas Larissa conta que também há críticas. E ela repeita os dois lados da exposição.
Engajada na causa da inclusão, a youtuber acredita que, ao mostrar a cultura dos surdos, diminui as barreiras entre eles e ouvintes.
— Não somos extraterrestres — enfatiza a moça, que tem a ajuda do namorado para gravar os vídeos, apesar de fazer quase tudo sozinha. — Apenas nos comunicamos de forma diferente.
A motivação para Nathalia da Silva criar há cinco anos o seu canal é parecida com a de Larissa. Ela queria que mais meninas surdas pudessem ter acesso aos tutoriais e dicas de maquiagem e percebia que a maioria dos canais desse tipo não tinha legendas. Hoje, os principais temas que aborda na rede são maquiagens, novidades, tecnologias e dicas.
— A comunidade surda é muito esquecida pela sociedade. Se colocamos legendas para que os ouvintes possam nos acompanhar, por que não fazem o mesmo por nós? Infelizmente, nem sempre conseguimos entender os outros youtubers. A maioria dos surdos não faz leitura labial — explica ela.
Para Nathalia, não é uma questão de falta de tempo, já que ela consegue editar seu material e adicionar as legendas. E não seria também, para a youtuber, por falta de público: há, no Brasil, aproximadamente 10 milhões de surdos.
— Sempre recebo o retorno positivo das pessoas, mas há críticas negativas também. Algumas já falaram que meus vídeos são como remédios. Quando estão tristes, entram no meu canal e se divertem. Alguns já pediram autorização para apresentá-los em trabalhos de faculdade — afirma Nathalia.
Transmitir conhecimento parece unir esses youtubers. Em 2016, o professor universitário de Libras Leandro Viturino (o tambémconhecido como Léo Viturinno) criou seu canal para desmistificar algumas ideias sobre o universo daqueles que têm deficiência auditiva. Outro objetivo é ensinar Libras para melhorar a comunicação entre surdos e ouvintes. Na rede, ele, que tem mais de 15 mil inscritos, compartilha também um pouco de sua vida e debate assuntos atuais, como sexualidade.
Em um de seus vídeos, fala sobre “as perguntas que surdos odeiam responder”. Entre elas: “Você é surdo-mudo?”. Ele responde, em Libras: “Querido, eu tenho voz. Só não escuto nada. Nem todos os surdos são mudos. (…) A voz está nas mãos”.
— Acredito que aconteça direto com todos os surdos e não suportamos esse tipo de pergunta. Tive a ideia de gravar para pessoas ouvintes assistirem e pararem de fazer esses questionamentos. Recebi comentários de ouvintes pedindo desculpas, que se sentiram com vergonha por terem feito isso. E comentários de agradecimento pelas informações.
Fonte: O Globo
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