A África desfila por Sharjah
Manhã que encerrou a programação profissional da Feira do Livro de Sharjah colocou os mercados africanos no centro das atenções. O fim da manhã desta terça-feira marcou o encerramento da conferência profissional da Feira Internacional do Livro de Sharjah, nos Emirados Árabes. O dia teve como foco os mercados dos países africanos. Ao encerrar a conferência, a sheika Bodour Al Qasimi destacou as possibilidades que estes mercados podem apresentar. “Eu acredito que a África, o Oriente Médio e a Ásia são lugares para onde se devem olhar. São regiões com grande potencial, atraindo cada vez mais a atenção no cenário global. E, claro, esse dispositivo que cada um de nós têm em nossos bolsos tem feito isso acontecer ainda mais rápido. Além disso, eu acredito que estão nesses mercados emergentes o leitor do futuro”, disse em seu discurso. “Eu realmente acredito que o futuro da edição na África será brilhante”, completou.
O ponto alto da programação desta terça-feira foi a mesa da qual participaram representantes de quatro dos sete projetos ganhadores de uma bolsa de incentivo à inovação dada pela fundação Dubai Cares e pela International Publishers Association (IPA). Ao todo, foram distribuídos US$ 140 mil aos sete projetos e outros US$ 50 mil foram destinados para a restauração da biblioteca pública Book Bunk, de Nairobi, no Quênia. Para conquistar a bolsa, os candidatos tiveram que comprovar a capacidade de escala e de sustentabilidade de seus projetos.
Um dos projetos vencedores apresentados na conferência foi o Cassava Republic Press que vai usar o dinheiro para traduzir e produzir 10 livros infantis para as línguas nigerianas. O país tem registradas mais de 500 línguas locais, apesar de o inglês ser a oficial. O projeto prevê a transposição de obras literárias para o yorubá, hausa e lgbo. “Por conta de nossa história, estamos acostumados a publicar nas línguas coloniais. O que o projeto busca é tornar livros em nossas línguas maternas sustentáveis comercialmente”, disse Bibi Bakare-Yusuf, editora da Cassava. “A língua é uma característica substancial para a nossa cultura e livros são importantes para conectar o passado ao futuro”, completou.
Outro projeto que está preocupado com a preservação de línguas é o Pukupedia, encabeçado pela ONG Puku Foundation, da África do Sul. Elinor Sisulu, representante do projeto, propõe uma enciclopédia literária escrita nas diversas línguas originais do país, com a possibilidade de alcançar, no futuro, todo o continente. O projeto prevê ainda a construção de um portal pelo qual escritores locais possam se profissionalizar por meio de cursos on-line e professores e facilitadores de leitura possam se preparar melhor para a função.
O Story Jukebox, da Positively African foi o terceiro projeto apresentado na conferência de Sharjah. O objetivo é transformar a literatura acessível por meio de audiobooks com histórias africanas que serão distribuídas por meio de parceiros e plataformas locais. A primeira etapa do projeto será a distribuição de oito contos da antologia Humans of Nairobi.
O quarto projeto apresentado em Sharjah foi o OkadaBooks, encabeçado por Okechukwu Ofili, é uma startup que quer deixar os livros literários acessíveis aos estudantes da Nigéria. Para isso, a tecnologia será posta em ação. Professores, pais e alunos terão acesso gratuito aos livros por meio de celulares. Além disso, o OkadaBooks fará concursos em busca de novos talentos da escrita no país.
O feminismo discreto de Bodour
Ao encerrar a conferência de editores que antecedeu a abertura da Feira Internacional do Livro de Sharjah, a sheika Bodour Al Qasimi chamou a atenção para um fato. Nos primeiros dois dias de conferência – organizados pela Sharjah Book Authority – passaram pelos palcos da Câmara de Comércio de Sharjah 20 homens e nove mulheres. No último dia do evento – este organizado pela IPA, da qual Bodour é vice-presidente – essa proporção ficou mais igualitária: nove homens para oito mulheres. Ao dizer isso, com a voz embargada, foi aplaudida pela plateia.
Fonte: Publishnews
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