Apenas 19 escolas de Minas promovem valores da Unesco
Colégios com certificado ensinam, entre outras coisas, questões culturais e direitos fundamentais
Das escolas que integram a Rede PEA no Estado, apenas quatro são públicas. No Brasil, em torno de 57% das instituições são privadas. “O projeto surgiu em 1953 com o ideal de ajudar a melhorar a qualidade das escolas públicas nos países-membros da Unesco. Infelizmente, o selo ficou muito tempo como algo elitista, envolvendo mais escolas privadas”, diz a professora Ranilce Guimarães-Iosif, especialista em educação que já pesquisou sobre o PEA e oficial de Programas Educacionais no Canadá. “Apenas nos últimos três anos que a coordenação nacional vem tentando equilibrar os números”.
A Escola Estadual Messias Pedreiro, em Uberlândia, conseguiu a certificação da Unesco em 2015. “Os projetos desenvolvidos na escola passaram a ter um objetivo mais claro. Quando a gente fala sobre a mulher, o negro e o imigrante, nossos alunos entendem que o mundo está discutindo isso também”, disse a professora de história da instituição, Maria Helena Raimundo. Ela destaca um festival de cinema realizado na escola, em que os estudantes produziram curtas-metragens sobre questões ligadas ao preconceito.
Segundo a coordenadora Nacional do PEA no Brasil, Myriam Tricate, há um esforço para fortalecer a presença das instituições públicas no programa. “Crescer não significa apenas ter mais escolas, mas ter a participação efetiva da rede pública. Para que uma escola estadual ou municipal participe de forma plena, é imprescindível ter o apoio das secretarias da Educação, que devem criar condições para que os diretores e professores se dediquem ao projeto”, afirma Myriam, ressaltando a diversidade das instituições participantes: há escolas indígenas, rurais e prisionais. “A possibilidade de trocas entre escolas tão diversas, que atendem públicos tão diferentes, é o que faz a importância da Rede PEA”, pontua. Conforme Myriam, é intenção da rede atrair mais instituições mineiras.
“É importante que as escolas tenham compromisso. Não é simplesmente buscar a certificação, tem que promover novas abordagens de ensino, trazer inovações, pensar no que pode apresentar de diferente para as outras”, explica a coordenadora regional do PEA em Minas, Amália Mendes. Ela também é diretora do Colégio Padre Eustáquio, em BH, associado desde 2010. “Tivemos recentemente no colégio uma mostra cultural com trabalhos e apresentações sobre cultura negra”, exemplifica.
Encontro
Minas Gerais. O próximo encontro nacional das escolas que integram o PEA, principal evento de formação da Rede, deve ocorrer em Ouro Preto, na região Central do Estado, em 2019.
Temas propostos pela rede são desafio, diz diretor de escola
Das cinco escolas certificadas na capital, duas são novatas e receberam o selo do PEA em setembro, durante o encontro nacional do PEA em Salvador (BA). O Colégio Santo Antônio, na região Centro-Sul, apresentou projetos como o da oficina de customização de cadernos e livros, em que os alunos deram cara nova a materiais que não utilizavam mais e os doaram a quem precisa. O que não dava para ser reaproveitado foi destinado à reciclagem.
Os alunos também visitam creches e reúnem roupas e brinquedos para as crianças. “O selo é um estímulo para que o trabalho continue e é também uma responsabilidade. Pais, alunos e professores ficaram felizes”, disse o coordenador pedagógico da escola, Olavo Sérgio Campos.
Três anos após a inscrição, o Colégio Bernoulli, na mesma região, também tornou-se associado no último mês. Os alunos trabalharam em um projeto de valorização do patrimônio de Minas Gerais e apresentaram os resultados em uma semana cultural. “Os temas propostos (pela rede) nos desafiam e nos inspiram a sair da nossa zona de conforto. Uma escola do século XXI que não tenha a cultura de colaboração se torna retrógrada”, afirma o diretor pedagógico do colégio, Marcos Raggazzi.
O Colégio Magnum Cidade Nova, na região Nordeste de BH, associado há oito anos à Rede PEA, desenvolve projetos, como a conferência de ciências em que os alunos devem debater soluções para problemas mundiais considerando questões éticas e um programa de sustentabilidade, em que trabalham, por exemplo, a coleta seletiva. “Uma escola só é completa quando foca os resultados acadêmicos e a formação de princípios e valores”, concluiu o diretor Eldo Pena Couto.
2019 será ano das línguas indígenas
O ano de 2019 foi declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o das línguas indígenas e da tabela periódica. Os temas devem inspirar as escolas na elaboração de trabalhos pedagógicos.
“É uma rede comprometida com a educação voltada para a transformação da realidade. Se não participássemos, talvez algumas temáticas passassem despercebidas. Quando a escola pararia para pensar na diversidade da língua indígena e no valor cultural que ela tem?”, questiona a coordenadora da rede de educação Marcelina, Rita Rangel.
No Colégio Santa Marcelina, na região da Pampulha, na capital, que integra a Rede PEA há cerca de dez anos, um projeto de sustentabilidade levou os alunos a abolir os copos descartáveis do refeitório.
A estudante do Colégio Magnum Cidade Nova, Gabriela Moraes Freitas, 16, diz que a rede incentiva não só a formação de um bom aluno, mas também de uma pessoa melhor. “Já juntamos lacres de latas para trocar por cadeiras de rodas, visitamos creches e asilos. A gente vive em uma bolha, e é importante conhecer outras realidades, faz com que a gente cresça como pessoa mesmo”, conta.
Saiba mais
Missão. A Rede PEA deve contribuir para a conquista dos objetivos definidos pela Agenda 2030 da ONU, como erradicação da pobreza, educação de qualidade, igualdade de gênero, saúde e bem-estar, trabalho decente e redução das desigualdades. Ela tem 21 escolas rurais, duas quilombolas, três indígenas, uma em assentamento agrário, duas prisionais e uma para menores em situação de privação de liberdade.
Fonte: O Tempo
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