Resgate de idiomas nativos será uma das propostas da Bienal do Mercosul em 2018
Instalação com gravações de línguas indígenas será uma das obras que integrará a próxima edição da Exposição
A Bienal de Artes Visuais do Mercosul está sendo preparada para o ano que vem. O curador-geral desta 11ª Bienal, o alemão Alfons Hug, em recente visita a Porto Alegre para dar andamento aos trabalhos, revelou que o projeto está bastante adiantado. “Queremos celebrar a diversidade linguística e cultural com o tema ‘O Triângulo do Atlântico’”, apontou Hug.
A lista completa dos artistas integrantes será divulgada mais adiante, mas Hug disse que deve ter aproximadamente 60 nomes. Ele falou, contudo, de algumas propostas. Uma delas está definida. Será uma montagem que irá valorizar línguas nativas, algumas em vias de extinção. Esta será uma obra sonora chamada “Vozes indígenas”. O local também foi escolhido. Pela primeira vez, a Igreja Nossa Senhora das Dores (Rua dos Andradas, 387), no Centro Histórico, vai receber parte da exposição. A escadaria do lugar já foi palco de um concerto que marcou o início da preparação desta edição. O curador explica que o templo foi escolhido pelo seu caráter histórico.
O trabalho sonoro será coletivo. Para esta obra sonora, caixas de som serão colocadas umas em frente às outras, com espaço para o público caminhar entre elas, sugerindo um diálogo. De um lado línguas ameríndias e, de outro, africanas. “O artista terá total liberdade sobre o texto, que pode ser dele ou de alguém que ele entrevistou, e deve ter cerca de 2 a 3 minutos”, explicou Hug. “Valorizar o som aqui me pareceu apropriado, pois não há motivo para competir com o visual”, comentou Hug, fazendo alusão à arquitetura do prédio em restauração.
Ao se aproximar de cada um dos alto-falantes, se poderá ouvir distintamente o som de cada língua, algumas em risco de extinção. A frente de cada caixa, haverá uma legenda explicando qual a língua emitida e qual o artista responsável por expô-la. Uma delas será Yagán (Chile), que, conforme Hug, se considera a língua mais perto da extinção em todo o mundo, registrada pelo artista Rainer Krause, alemão radicado no Chile. Outra será a língua do grupo étnico Selk’nam u Onas, da Terra do Fogo, captada pelas argentinas Laura Kalauz e Sofia Medici.
Desta forma, a Bienal será não apenas um ponto de interesse para quem gosta de arte, mas também de história, antropologia e linguística, pois todas estas áreas do conhecimento serão, de alguma forma, abordadas no tema do “Triângulo do Atlântico”. O projeto curatorial propõe um diálogo sobre as influências culturais de matrizes europeia, americana e africana que formaram o Brasil. O foco nos idiomas parece refletir também o perfil do curador. Alemão, morou por 15 anos no Brasil ao ser diretor do Instituto Goethe no Rio Janeiro e em Brasília. Atualmente trabalha na sede do Goethe na cidade de Lagos, Nigéria, e pretende trazer artistas africanos contemporâneos para participar da exposição no Estado.
Obras que fazem referência a oceanos e travessias, assim como lugares de chegadas e partidas também interessam a Hug. É o caso do trabalho do artista Gustavo Von Hah, que reúne obras feitas com fragmentos retirados do Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, como vasos Maragogipe, azulejaria e tigelas de argila. Ele é um dos selecionados para integrar a Bienal 2017.
Algumas atividades culturais da Bienal já estão sendo promovidas neste ano. A próxima será uma palestra com o renomado geneticista Sérgio Danilo Penna, que apresentará um de seus estudos sobre a genética do povo brasileiro. O evento será no dia 27 de maio, às 10h, no auditório do Cremers (Bernardino Pires esquina com a Princesa Isabel). Outra será para crianças, no domingo, dia 28: é o evento gratuito “Arte na Praça: o Triângulo das Crianças”, que ocorrerá às 10h, na Redenção. Vai reunir artistas para receber crianças, de 9 a 13 anos, para pintar sobre o tema da Bienal. A seleção será feita na hora, por ordem de chegada. O material será fornecido.
Fonte: Correio do Povo
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