Workshop reúne ativistas digitais que revitalizam línguas indígenas na Colômbia

Participantes do Encontro de ativistas digitais de línguas indígenas, realizado na Colômbia, entre 18 e 19 de junho.

Participantes do Encontro de ativistas digitais de línguas indígenas, realizado na Colômbia, entre 18 e 19 de junho.

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A diversidade cultural colombiana é refletida em seu rico patrimônio linguístico, representado por mais de 60 línguas indígenas. Enquanto algumas línguas estão em perigo de extinção, muitas outras estão vivas e bem.

Faladas por aproximadamente um milhão de pessoas espalhadas pelo país, estas línguas podem ser encontradas em salas de aula, nos mercados, no transporte público e na internet. As pressões sociais e a histórica repressão de línguas nativas (não apenas na Colômbia, mas na América Latina como um todo) desincentivaram muitas pessoas a manter suas línguas maternas. No entanto, a juventude está liderando o reavivamento, lutando por sua língua e cultura através do uso de ferramentas digitais fáceis e de plataformas da web. Estes “ativistas digitais” estão no centro deste movimento cuja missão é assegurar que a próxima geração possa encontrar a sua linguagem e cultura na web.

Durante dois dias, entre 18 e 19 de junho, 15 participantes de várias partes da Colômbia juntaram-se em Bogotá para o primeiro Encontro de Ativistas Digitais de Línguas Indígenas. Na trilha do sucesso de um encontro parecido realizado em Oaxaca, no México, em outubro, o evento colombiano proporcionou um espaço interativo no qual jovens usuários indígenas, que revitalizam línguas nativas, puderam se encontrar para aprender mais um com o outro.

O Encontro foi co-organizado pelo Global Voices através da iniciativa Rising Voices, assim como pelo grupo de pesquisa Muysccubun e o Instituto Caro e Cuervo, que foi o lugar de realização do evento. Wikimedia Colombia, Mozilla Colombia, e Ubuntu Colombia também prestaram auxílio como parceiros locais, liderando workshops e oferecendo orientação aos participantes, que desejavam iniciar novos projetos ou melhorar as iniciativas existentes. O Encontro foi também parcialmente apoiado pelo Hivos.

Ever Kuiru (à direita) mostra à Deiver Edisson Canticus e Yeraldin Domico o site do seu projeto digital.

Ever Kuiru (à direita) mostra à Deiver Edisson Canticus e Yeraldin Domico o site do seu projeto digital.

Participantes
Na metade de maio, publicou-se uma chamada pública de participação para encontrar pessoas interessadas, que já estavam trabalhando com línguas nativas através de ferramentas da internet. Os participantes foram selecionados com base no critério de diversidade geográfica e linguística, e de comprometimento de compartilhamento dos novos aprendizados com as suas comunidades.

As candidaturas chegaram de todas as partes do país, demonstrando um número expressivo de projetos comunitários, incluindo rádios online, blogs, promoção de mídias sociais, dicionários online e jogos online para crianças. Ao final do processo de seleção, o time organizador escolheu 15 pessoas para participar. Uma lista completa dos participantes e de suas respectivas comunidades e idiomas pode ser encontrada aqui.

Plenárias, workshops e eventos públicos
Os participantes selecionados foram convocados a realizar workshops ou discussões com o intuito de que cada sessão fosse uma espécie de diálogo entre os participantes. Durante as sessões plenárias, os facilitadores introduziram um tópico, que incluía algumas questões gerais para o grupo, com o objetivo de estender a discussão à todos com base em suas perspectivas locais e experiências pessoais.

Estas sessões incluíram discussões sobre desafios técnicos em relação ao uso de línguas nativas na internet como, por exemplo, a falta de teclados para digitar os caracteres necessários. A persistente falta de conexão em muitas comunidades é também um grande obstáculo para as comunidades, impedindo-as de se tornarem mais ativas virtualmente. Outro desafio debatido foi a falta de consenso das comunidades participantes em relação aos métodos de escrita e os métodos para a construção de um alfabeto uniforme.

Os participantes também compartilharam as suas perspectivas sobre a necessidade de utilizar palavras em espanhol quando a sua língua nativa carece de uma palavra relacionada à tecnologia. Alguns estavam convencidos de que neologismos precisam ser criados para suprir este tipo de necessidade e demonstrar que o idioma nativo pode ser totalmente funcional e autonômo. Outra discussão girou em torno dos direitos da comunidade em relação ao conteúdo que é transmitido na internet (se os ativistas digitais necessitam de permissão dos anciãos ou líderes e em quais circunstâncias, e como licenças públicas podem auxiliar nesta tarefa).

A discussão final focou-se nas alternativas para construir alianças entre os diferentes sujeitos no intuito de garantir mais sucesso aos projetos de revitalização de idiomas. Muitos participantes pediram por uma maior presença de autoridades governamentais no workshop para que eles pudessem diretamente reivindicar a preservação de suas línguas comunitárias e as devidas necessidades de revitalização.

Jhon Alexander Delgado compartilha o seu projeto digital com o grupo.

Jhon Alexander Delgado compartilha o seu projeto digital com o grupo.

Baseando-se na experiência do workshop no México, os participantes tiveram um tempo adicional destinado à apresentação formal de seus projetos digitais para todo o grupo.

Workshops práticos organizados pelos próprios participantes e parceiros locais foram outro ponto central do Encontro. Estes workshops incluíram gravação e edição através do software Audacity; Como iniciar um projeto com um software livre de localização; Criando memes usando a ferramenta Webmaker; Como editar um artigo na Wikipedia; E como maximizar o twitter para criar conversas centradas em uma hashtag específica. A hashtag utilizada para este evento foi #ActivismoLenguasCO.

Devido à grande demanda, a mesa redonda denominada de “Internet na minha língua – Experiências de ativistas colombianos virtuais em língua indígena” ocorreu na manhã de sábado. Gratuita e aberta ao público, o evento foi uma oportunidade para os participantes do workshop interagirem com o público para difundir mais o tema.

Aumentando a rede de contatos
Os dois dias foram enriquecidos com um grade espectro de informação e desenvolvimento de habilidades. Durante a sessão de encerramento, muitos participantes recomendaram que sessões futuras sejam mais longas para proporcionar uma interação mais profunda com ferramentas digitais e tópicos. De acordo com os participantes, dois dias não são suficientes para refletir sobre os diversos desafios encarados por ativistas digitais de línguas indígenas na Colômbia. Além disso, a grande variedade de informações sobre ferramentas virtuais foi em algumas ocasiões demasiada. Assim, mais tempo com menos ferramentas foi outra sugestão.

Discussões em grupo durante o workshop.

Discussões em grupo durante o workshop.

O mais importante foi que os participantes reiteraram o seu comprometimento pessoal com os seus projetos. Eles também expressaram o desejo de multiplicar o modelo do workshop a nível local e conectar-se virtualmente com outras comunidades de outras regiões como, por exemplo, as que participaram do encontro no México.

No início deste ano, o Rising Voices lançou ActivismoLenguas.org, um portal para documentar e sistematizar o ativismo digital de línguas indígenas na América Latina. O site abriga o perfil de projetos, entrevistas de vídeo com os participantes do México e entrevistas de vídeos com os participantes da Colômbia será compartilhada em breve (tudo isto se tornou possível com a colaboração de estudantes de linguística da Universidade Nacional Colombiana). Esta rede, que começou em Oaxaca, já incluiu os novos membros do workshop na Colômbia.

Estes Encontros demonstram que um trabalho inovativo está ocorrendo a nível local, mas que ainda há necessidade de suporte técnico, linguístico e comunitário. O desafio de encontrar caminhos significativos para conectar estes jovens ativistas virtuais de línguas indígenas permanece. A concretização de uma rede de contatos com eles é um caminho nesta direção.

O Global Voices espera continuar a multiplicar este modelo em outros países da região através da facilitação de parcerias com organizações locais que compartilham esta missão comum, agregando um maior impacto ao trabalho deste ativistas virtuais.

Escrito por Eduardo Avila | Traduzido por Mariana Monteiro de Matos | Artigo original

Fonte: Global Voices

 

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