Vestibular dos Povos Indígenas deve ter recorde de inscritos
Facilitar o ingresso de indígenas no ensino superior é uma iniciativa pioneira no Paraná; concurso é realizado desde 2002.
As universidades estaduais abriram nesta segunda-feira (29) as inscrições para o 19º Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná. Para facilitar o acesso dos candidatos, o concurso foi descentralizado e acontece em seis cidades onde há grande presença indígena. Além de Londrina e da capital, Curitiba, haverá provas em Chopinzinho e Mangueirinha (Sudoeste), Manoel Ribas (Centro) e Nova Laranjeiras (Centro-Oeste). A expectativa dos organizadores é de 1,1 mil inscritos, sendo 300 na UEL (Universidade Estadual de Londrina). As inscrições, gratuitas, se estendem até 30 de agosto e devem ser feitas pela internet, no portal do Núcleo de Concursos da UFPR, no endereço www.nc.ufpr.br/. As provas serão realizadas nos dias 17 e 18 de novembro.
Facilitar o ingresso de indígenas no ensino superior é uma iniciativa pioneira no Paraná. Desde 2002, quando foi feito o primeiro vestibular, as universidades vivenciam uma crescente procura de candidatos indígenas. Na primeira edição, eram 54 candidatos para 15 vagas. Na edição de 2018, foram mais de 800 inscritos e homologados para 42 vagas em sete universidades.
O vestibular é subsidiado pelo governo do Estado e os inscritos não têm nenhum gasto com hospedagem, alimentação e transporte. Com o aumento do número de interessados e em razão da dificuldade logística de reunir todos os candidatos em um único local, neste ano a organização optou por descentralizar o concurso.
CICLO
No momento da inscrição, cada candidato indica três universidades nas quais quer cursar a graduação, por ordem de preferência. Seis vestibulandos são classificados para cada uma das sete instituições e ao efetivar a matrícula é que escolhe o curso.
“Houve uma queda significativa da evasão por conta de acompanhar de fato cada aluno e compreender as suas limitações e fragilidades”
Na UEL há um diferencial que é o Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica dos Estudantes Indígenas. Antes de optar pelo curso, os seis indígenas passam um ano no Ciclo, onde retomam conteúdos do ensino médio, discutem o espaço da universidade e passam a conhecer a instituição a partir de eixos temáticos relacionados à questão indígena. Se ao final do ano a avaliação do desempenho alcançar a média 6, o aluno pode ser matriculado. Caso contrário, fica mais um ano no Ciclo. “No segundo ano, se novamente a nota mínima não for alcançada, é analisado um conjunto de critérios e o aluno pode perder a vaga”, explicou Amaral. As avaliações são feitas mensalmente.
O Ciclo também permite que os alunos indígenas se aproximem dos cursos de graduação. Durante esse processo, muitos acabam mudando de ideia e no momento da matrícula optam por outro curso, às vezes até em outra área. “O Ciclo, criado pela UEL, é a única experiência na América Latina toda”, ressaltou o membro da Cuia.
A iniciativa foi implantada em 2014 como forma de reduzir a evasão escolar entre os alunos indígenas. O abandono acontecia por desconhecimento do curso, pela dificuldade de acompanhar a dinâmica da graduação e compreender a linguagem acadêmica, além do preconceito e isolamento. “Houve uma queda significativa da evasão por conta de acompanhar de fato cada aluno e compreender as suas limitações e fragilidades. E conseguimos possibilitar que as escolhas dos cursos fossem de fato conscientes e compreendidas por ele, pela família e pela comunidade”, destacou Amaral.
DOIS DIAS DE PROVAS
O vestibular acontece em dois dias. No primeiro, os candidatos fazem a prova oral na língua portuguesa, mas respondem a questões com temática indígena. Eles se apresentam a uma banca formada por dois docentes e têm que interpretar um enunciado e falar sobre o tema em português, demonstrando domínio do idioma. No segundo dia de prova, ele responde às questões de conhecimentos gerais e redação. Na prova de conhecimentos gerais, o candidato pode optar pela língua indígena.
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