Timor-Leste realiza nessa semana maior debate sobre educação em quase 10 anos

Timor-Leste reúne nessa semana alguns dos seus principais líderes para o maior debate sobre o setor da educação em quase 10 anos que, além de analisar o momento atual, deve determinar a linha de ação do próximo Governo.

A Conferência Nacional de Educação, de três dias, foi desenhada, como explicou à Lusa o ministro da Educação, para procurar adotar um consenso sobre as diretrizes para o setor que em alguns aspetos continua a dividir as opiniões.

“Medir a capacidade e a qualidade da educação passam não só pelo currículo, mas pela capacidade de os professores poderem implementar o currículo, a capacidade linguística para poderem fazer a transmissão da ciência para o aluno e outras competências necessárias para manter uma comunicação efetiva com os estudantes”, referiu António da Conceição.

Questões como a língua curricular dos primeiros anos de escola, críticas sobre o pouco investimento no setor educativo e apelos de vários quadrantes para um reforço significativo da estratégia de disseminação do português marcam o debate.

Na semana passada o Presidente timorense insistiu que o país precisa de definir uma política clara da disseminação da língua portuguesa, reforçando significativamente o orçamento do setor da educação e evitando ações que “boicotam” essa política.

Taur Matan Ruak disse que nas visitas que efetuou ao interior do país encontrou jovens do 5.º ano que não sabiam sequer como se dizia ‘nariz’ em português, e “em alguns casos nem sequer em tétum”, língua oficial do país a par do português.

“Aqui até na televisão falamos indonésio. Acho que estamos todos um bocadinho perturbados. Temos que saber exatamente o que queremos. Já passaram 17 anos, daqui a seis são 24 depois da guerra. Em 24 anos os indonésios ensinaram 95% da população a falar indonésio. E nós em 17 ensinámos quantos a falar a língua oficial?”, questionou.

Matan Ruak, como outros líderes timorenses, defendem um aumento significativo na despesa pública em educação que em vários países da região varia entre 10 e 17% do Orçamento, mas em Timor-Leste ronda apenas os 6%.

Um dos temas que tem dividido as opiniões é o projeto piloto de uso das línguas maternas nos primeiros anos do pré-escolar e primeiro ciclo, estratégia criticada por vários dirigentes mas apoiada, entre outros, pela ex-mulher de Xanana Gusmão, a australiana Kirsty Sword, e promovida por organizações como a Unesco.

Vicente Paulino, do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), defendeu recentemente que os dirigentes de Timor-Leste, especialmente no Ministério da Educação, não têm mostrado “consistência política” no que toca à língua portuguesa, contribuindo assim para a tensão linguística no país.

O professor timorense referiu-se ao que disse serem as tensões que se vivem dentro e fora do espaço escolar no que toca ao uso da língua portuguesa, que começaram logo no momento da decisão constitucional de colocar o português como língua oficial em Timor-Leste (a par do tétum).

E que se agravaram, destacou, quando a lei de base da educação deu aos professores a opção de escolherem entre as duas línguas como língua de instrução, algo que, insistiu, “deve ser revisto para colocar o português como única língua de instrução”.

O encontro da educação arranca na segunda-feira com intervenções de António da Conceição e do primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo, estando ainda previstas intervenções do ex-chefe de Estado, José Ramos-Horta e do ex-chefe do Governo, Mari Alkatiri.

A conferência deverá conhecer um diagnóstico do setor da educação e realizar vários debates setoriais incluindo com sobre aspetos como o currículo nacional, formação de professores, gestão do ensino superior e administração e inspeção escolar, entre outros.

O encontro deverá produzir uma declaração final que deve servir como base de trabalho para o Ministério da Educação do próximo Governo que sairá do parlamento eleito a 22 de julho próximo.

Fonte: DN

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