Eurodeputados analisam Pacote para a Salvaguarda das Minorias
Dezenas de milhões de pessoas vivem em comunidades consideradas minorias étnicas nativas da União Europeia, mas nem todos conseguem ver respeitados os seus direitos em termos de proteção da língua e das práticas culturais.
O eurodeputado de centro-direita Lóránt Vincze é membro da comunidade húngara na Roménia, onde manter a identidade cultural é uma luta constante. “A União Europeia deve dar atenção aos padrões de educação para as minorias, deve encorajar o uso das suas línguas maternas mesmo vivendo noutros países”, disse em entrevista à euronews.
“O multilinguismo não significa apenas o uso das línguas oficiais, mas também a existência de muitas pequenas línguas regionais que estão hoje em risco de desaparecerem”, acrescentou.
Mais de um milhão de assinaturas vai obrigar a debater o caso
Uma petição denominada Pacote para a Salvaguarda das Minorias reuniu mais de um milhão de assinaturas em vários Estados-membros no âmbito da Iniciativa de Cidadania Europeia.
Esta ferramenta legislativa obriga a Comissão Europeia a analisar um tema quando as assinaturas foram obtidas no conjunto de pelo menos sete Estados-membros. Os peticionários também vão ser ouvidos, quinta-feira, pelo Parlamento Europeu.
Angelika Mlinar, ex-eurodeputada da minoria eslovena que vive no sul da Áustria, lamenta que a sua língua esteja tão confinada nesse país, apesar dos eslovenos serem cerca de 25% da população da Caríintia.
Agora ativista pela diversidade cultural, Angelika Mlinar tem-se batido para que sejam abolidas limitações geográficas nos conteúdos audiovisuais digitais.
“Quando passo a fronteira, não tenho acesso a programas no meu próprio idioma, na minha língua materna. O impacto é muito grande porque não se trata de um questão de entretenimento mas de manter o vínculo com a minha língua materna”, explicou em entrevista à euronews.
Exemplos polémicos e caos bem sucedidos
A questão pode ser delicada quando as minorias têm programas políticos de independência como é o caso da Catalunha, em Espanha.
Contudo, os organizadores do Pacote para a Salvaguarda das Minorias defendem uma abordagem de cooperação e dão como exemplo a região do Tirol do Sul, em Itália, onde a minoria austríaca usa o alemão sem quaisquer restrições e se fala ainda italiano e ladino.
“Nos últimos 70 anos foi possível desenvolver esta política. As minorias têm as suas próprias escolas. Costumo dizer que é uma pequena Europa dentro da Europa, com todos a viverem juntos de maneira pacífica”, referiu Daniel Alfreider, representante do Partido Popular do Tirol do Sul.
Roménia e Espanha são dos Estados-membros mais céticos sobre a intervenção da lei comunitária nesta matéria pelo que conseguir consenso para nova legislação poderá ser difícil.
De Isabel Marques da Silva & Sandor Sziros