Qual será o peso do Brics em 2025? Entrevista com Gueórgui Toloráia
Qual será o peso do Brics em 2025?
Nikolai Surkov, Gazeta Russa
Em entrevista à Gazeta Russa, o diretor-executivo do Comitê Russo de Estudos do Brics, Gueórgui Toloráia, falou sobre os resultados do Fórum Acadêmico do Brics, realizado em Moscou nos dias 22 e 23 de maio.
Qual foi o principal resultado das recentes reuniões?
O fórum permite a troca de opiniões sobre questões-chave para o desenvolvimento do Brics. Pela própria agenda do encontro já é possível perceber para onde se desloca o centro das atenções, porque a comunidade acadêmica trabalha de forma proativa. No momento atual, despontam em primeiro plano as questões relativas à arquitetura financeira mundial, à manutenção da paz e da segurança e ao desenvolvimento sustentável. E os especialistas de cada área estão buscando respostas para esses desafios.
Chegamos a um acordo sobre a estratégia de longo prazo para o desenvolvimento do Brics. Esse documento será apresentado aos líderes pelo sherpa [termo utilizado em diplomacia para designar o principal articulador e negociador em cúpulas de chefes de Estado] brasileiro na próxima cúpula do grupo, em Ufa. O relatório não contém respostas para todas as questões, mas, pelo menos, uma série de problemas foi equacionada. Também estamos empenhados em estabelecer metas que o Brics deve alcançar, como o grupo estará em 2025…
E o que podemos esperar em 2025?
Durante o evento, o sherpa russo Serguêi Riabkov, que é vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, nos preveniu sobre o risco de o Brics ser visto como uma organização. Porém, os especialistas nacionais acreditam que, apesar de tudo, o grupo deve avançar no sentido da institucionalização. Segundo eles, deve haver maior coordenação entre os países, porque somente isso permitirá solucionar os problemas, e não apenas ficar trocando opiniões.
Tenho a impressão de que até 2025 o Brics irá aumentar consideravelmente sua participação na economia e no comércio mundial. Será criado um novo sistema financeiro global no qual, em comparação com o contexto atual, o Brics terá predominância significativa. Ou, talvez, até mesmo um sistema financeiro próprio que permitirá que as economias dos países-membros se apoiem mutuamente.
O intercâmbio humanitário e cultural também terá um crescimento considerável. Como resultado, o padrão de vida nos países do grupo deve melhorar. Muitos problemas sociais serão resolvidos, e muitos projetos de infraestrutura serão concretizados.
Os representantes de outros membros do Brics compartilham dessa visão?
Em diferentes graus. Todos têm seu próprio ponto de vista, mas queremos encontrar um denominador comum. Infelizmente, este ainda é muito reduzido. O mais importante é que existe um entendimento acerca dos objetivos que devem ser definidos e que é preciso buscar caminhos para alcançá-los.
Qual é a importância da próxima Cúpula do Brics, em Ufa?
Para a Rússia, a próxima cúpula é importante pois acontece em meio a um crescente confronto com o Ocidente. E o próprio fato de sua realização irá fortalecer as nossas posições em termos de política externa.
Mas, de um modo geral, o encontro também será importante para definir uma estratégia econômica, que inclui o novo Banco de Desenvolvimento, o pool de reservas nacionais e a já criada Secretaria Virtual, que representam o início da institucionalização do Brics.
Será então uma ‘cúpula histórica’?
Cada uma de nossas reuniões acaba sendo um marco, pois a associação é nova. Mas é difícil prever qual o grau de relevância de cada encontro. A cúpula no Brasil, por exemplo, ia acontecer de forma rotineira, mas, por causa da situação internacional, ela adquiriu grande importância.
As crises estão ocorrendo com maior frequência. O Brics reage a elas e elabora prontamente um posicionamento unificado. Ampliam-se os contatos referentes aos conflitos regionais. A propósito, também realizamos nesses dias uma reunião com os vice-ministros das Relações Exteriores, na qual estão discutindo a situação no Médio Oriente. Pelo visto, a frequência desse tipo de contatos só tende a aumentar.
Fonte: Gazeta Russa