Portugueses revoltados com proibição de falar a língua materna no Luxemburgo

Portugueses revoltados com proibição de falar a língua materna no Luxemburgo

A cidade do Luxemburgo, morada de milhares de portugueses. (Shutterstock.com)

A cidade do Luxemburgo, morada de milhares de portugueses. (Shutterstock.com)

O caso de um director de turma que proibiu os alunos de falar português nas aulas, uma decisão aplaudida pela ministra da Família do Luxemburgo, está a preocupar a comunidade portuguesa no país, que considera a medida “castradora”.

Para o presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL), a proibição pode levar também a um sentimento de desvalorização da língua materna, contrariando as políticas do Governo luxemburguês, que vem defendendo a importância do português para o sucesso escolar dos imigrantes.

“Eu compreendo que na escola os alunos se exprimam na língua em que estão a ser ensinados, mas proibir genericamente o português nas aulas é uma forma de castração”, disse à Lusa José Coimbra de Matos, sublinhando que “se as crianças partirem do princípio que a língua delas é proibida no sistema escolar, vão sentir-se inferiorizadas em relação aos outros”.

O dirigente associativo acusou ainda o Executivo luxemburguês de “incoerência” entre “aquilo que diz e aquilo que faz”.

“O Governo luxemburguês diz que tem de se apostar no multilinguismo, e depois surge uma medida destas”, lamentou Coimbra de Matos.

O presidente da Confederação Portuguesa garantiu à Lusa que o caso não é único no Luxemburgo, e diz que há mesmo creches em que a língua portuguesa é proibida.

“Pessoas que trabalham em creches públicas informaram-nos que as crianças são punidas se forem apanhadas a falar português”, contou à Lusa Coimbra de Matos, para quem a medida discrimina sobretudo a comunidade portuguesa.

“Será que os que falam inglês ou italiano têm o mesmo tratamento?”, questionou o presidente da CCPL.

O caso, noticiado pela Rádio Latina, mereceu a aprovação da ministra da Família e da Integração do Luxemburgo, Corinne Cahen.

Num ‘post’ publicado pela ministra na rede social Facebook, Corinne Cahen defendeu a promoção da aprendizagem de várias línguas “desde o ensino precoce”.

Em comentário ao ‘post’ da ministra, um dia depois, uma mãe disse que temia que “o tiro saísse pela culatra”, acrescentando: “Na turma do sétimo ano da minha filha, 14 dos 20 alunos são portugueses, e o director de turma decidiu que não podem falar português nas aulas, mas que o luxemburguês é obrigatório”.

A ministra respondeu ao comentário, dizendo: “Decisão acertada do director de turma”.

Para o presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo, o comentário da ministra mostra que há “dois pesos e duas medidas” na política do Executivo luxemburguês.

“O próprio Ministério da Educação do Luxemburgo diz que é importante valorizar a língua materna e quis que o português fosse incluído no boletim escolar, e agora surge este caso que ainda por cima é aprovado por alguém com responsabilidades no Governo”, lamentou o dirigente associativo.

O ‘post’ na página do Facebook da ministra da Família, a que a Lusa teve acesso, foi entretanto apagado.

A Lusa tentou ouvir a ministra sobre este caso, mas fonte do seu gabinete informou que Corinne Cahen está fora do país.

A Lusa questionou também a autora do comentário na rede social que denunciou o caso da proibição de falar português, mas a mãe da aluna do 7° ano (o primeiro ano do ensino secundário no Luxemburgo) recusou revelar em que liceu o caso se passou ou prestar declarações.

No Luxemburgo há cerca de 100 mil portugueses, que representam cerca de 20 por cento da população no país.

Segundo dados do Ministério da Educação do Luxemburgo, o português é a segunda língua materna mais falada nas escolas do país, com 28,9% de falantes, a seguir ao luxemburguês, com 39,8%, mas à frente dos outros dois idiomas oficiais do Grão-Ducado, francês (11,9% de falantes) e alemão (2%).

Os alunos portugueses representam mais de vinte por cento dos estudantes em todos os níveis de ensino no país, uma percentagem que no ensino secundário técnico ronda os 28 por cento, segundo dados do Ministério da Educação de 2012/2013.

Fonte: SOL.pt

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