Pesquisador afirma que processo de resgate das línguas é complexo e demanda interesse das novas gerações indígenas

Línguas indígenas estão em processo de extinção, revela professor

Professor e pesquisador Rogério Ferreira (UFMS) - Foto: Victor Chileno.

Professor e pesquisador Rogério Ferreira (UFMS) – Foto: Victor Chileno.

Professor revela que perda de idiomas representa a destruição de tradições e da história

Com a segunda maior população de índios do Brasil, o Mato Grosso do Sul corre o risco de presenciar a total extinção dos idiomas de origem indígena. Um pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul aponta que das oito comunidades indígenas existentes no Estado, três já não falam mais a língua mãe.

O professor e pesquisador Rogério Ferreira, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, explica que a inserção dos povos indígenas na sociedade, com o objetivo de sobrevivência, fez com que eles deixassem de falar a língua mãe. “Houve uma força muito grande da língua portuguesa sobre eles”, ressalta.

No levantamento feito por Rogério, os povos Atikum, Tikão e Kamba não apresentam mais falantes. Já os grupos Kinikinau, Ofaié e Guató estão em risco de extinção linguística. Segundo o professor, não existe mais a manutenção linguística pelos índios dessas aldeias que abandonaram a língua mãe. “Com o tempo, a língua portuguesa se tornou dominante e a língua Guató deixou de ser falada pelos mais novos, do pai e da mãe para filho, do avô para o filho”, afirma o professor.

No grupo Ofaié, conta o pesquisador, o idioma está praticamente extinto e a língua de origem é falada por apenas cinco integrantes. “A língua mãe está somente nos mais velhos e nem entre eles é falada mais. E quando os falantes não passam para as próximas gerações, a língua é considerada extinta”, afirma.

Nesses casos, Rogério salienta que a língua está em extinção, porém os povos continuam preservando suas culturas e hábitos. “Eles continuam sendo Ofayé e Guató, mas sem falar a língua deles”, exemplifica. Porém, o professor explica que a perda linguística também afeta em parte a perda da cultura e, às vezes, de tradições culturais. “O maior prejuízo é a perda imaterial que é a língua. Junto, você perde mitos, as histórias que são a tradição oral desses povos que se reúnem em rodas, tomam a bebida tradicional e isso perduraria por gerações. Hoje, muitos deles já se esqueceram de suas histórias”, relata.

Entre os Terena, apesar da predominância da língua portuguesa, existe o bilinguismo, ou seja, a língua mãe continua viva em grande parte do grupo. Os Kadiwéu são os que mais preservam sua língua materna, ocorrendo entre eles ainda indivíduos que praticamente só falam a língua Kadiwéu.

Os grupos Guarani-Kaiowá e Guarani-Nhandeva são os únicos que não sofrem ameaça de terem suas línguas extintas. “Por possuírem uma densidade demográfica bastante grande no Estado, todos mantêm sua língua materna apesar do grande impacto que tiveram durante anos de contato e apesar das aldeias urbanas, suas tradições são bem preservadas”, menciona o professor.

Responsável por desenvolver o projeto “Manutenção Linguística da Língua Ofayé: um resgate da memória lexical”, Rogério afirma que a recuperação das línguas em extinção é muito complexa. Na tentativa de resgatar a linguística das aldeias, o professor tem feito um trabalho de ‘dicionalização’ que prevê a criação de material didático para ensinar as novas gerações de comunidades indígenas a língua esquecida. “Esse é o maior desafio não só no Mato Grosso do Sul, mas em todo território brasileiro, pois não há nada feito para o ensino de segunda língua para os povos indígenas”, ressalta.

Por fim, o pesquisador lembra que o fator mais importante nesse processo de resgate é trabalhar com a auto-estima destes povos, buscando o desejo de reviver a língua materna. “A atitude linguística do povo é a mais importante para qualquer projeto de revitalização”, completa.

Fonte: Diário Digital – Campo Grande MS

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