Para Ramos-Horta, línguas maternas em Timor-Leste devem ser opcionais, mas só no futuro
Línguas maternas em Timor-Leste devem ser opcionais, mas só no futuro
O ex-presidente da República timorense José Ramos-Horta defendeu que as línguas maternas em Timor-Leste sejam disciplinas opcionais nas escolas, mas apenas quando o país tiver condições, com o Governo a concentrar-se, para já, noutras questões prioritárias.
“Eu defendo a preservação das línguas maternas e das línguas tradicionais, mas enquanto disciplinas opcionais – ou até obrigatórias -, mas só quando este país tiver condições”, disse, em entrevista à Lusa.
“Não temos professores qualificados suficientes. Embarcar neste processo de fazer uso das línguas tradicionais vai ser mais um enorme encargo”, afirmou.
O ex-chefe de Estado falava à Lusa nas vésperas de o parlamento Nacional retomar, na segunda-feira, o debate da Apreciação Parlamentar sobre dois polémicos decretos curriculares do Governo para o ensino pré-escolar e ensino básico.
A Apreciação Parlamentar pretende cessar a vigência de dois diplomas, que colocam o português como língua principal apenas no 3.º ciclo e introduzem o uso de outras línguas maternas timorenses, não oficiais, no ensino.
Os currículos preparados para acompanhar os decretos explicam, por exemplo, que o português só terá 25 minutos de aula por semana na 1ª classe, algo que Ramos-Horta considera “perfeitamente ridículo”.
“Não sei a quem ocorreu essa brilhante ideia”, disse.
A pensar no debate, Ramos-Horta recomendou aos partidos com assento parlamentar e ao Governo que “enquanto pessoas responsáveis e que se preocupam com o futuro do país (…) se sentem, dialoguem e revejam toda essa política”.
Na ausência de consenso, disse, é preferível adiar esta decisão, até porque este Governo tem apenas mais dois anos e meio de vida, sendo “preferível que se concentre em coisas absolutamente prioritárias”.
“Melhorar as condições das escolas, água potável, saneamento, refeições escolares, bibliotecas. Porque são coisas físicas e de mais fácil solução, deixando esta questão de fundo para 2017.
“E até lá aprofundar o debate, com civilidade, com especialistas e ver qual seria a melhor forma. Mas sempre sabendo que Timor tomou esta opção do português e do tétum em 1999 e não vale a pena estar a reabrir o assunto constantemente ou a questionar esta decisão, que já está enraizada”, afirmou.
Ramos-Horta reconheceu que há estudos sobre outros países, incluindo alguns da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que sugerem o uso da língua materna pode facilitar a apreensão de outras línguas, mas insistiu que “um estudo que é verdade num país, não tem que ser verdade noutro”.
E questionou, ao mesmo tempo, o que ocorre num momento em que em Timor-Leste há “grande circulação de pessoas”, com muitos “de uma região, de um grupo étnico-linguístico” a viver em zonas diferentes do país.
“Como é que se vai fazer isso? Separa-se as classes? Dividem-se os alunos? Se calhar é melhor ter línguas maternas opcionais onde quem quiser tem acesso, mas reconhecendo que há uma grande mistura de todos”, afirmou.
Ao mesmo tempo, o ex-presidente insistiu que estes processos “não se podem fazer a corta-mato” e que uma das maiores deficiências continua a ser a falta de formação dos professores timorenses, incluindo o facto de não dominarem as línguas nas quais deve comunicar com os alunos.
Fonte: dnoticias.pt