Os 25 anos do MERCOSUL e a Política Externa Argentina

Mesmo entre marchas e contramarchas, o Mercosul é espaço essencial para a projeção de interesses e objetivos da política externa argentina

Por Matheus de Oliveira Pereira  

Existe pouca margem de dúvida para afirmar que o MERCOSUL é o projeto mais relevante de política externa no qual a Argentina se engajou nas últimas décadas. Essa qualidade está ligada à dupla dimensão que o bloco assumiu quando de sua feitura: tratava-se não apenas de criar um espaço de progressiva liberalização comercial, mas também de cimentar uma forma diferente de relacionamento entre Argentina e Brasil, os pilares do bloco, sob marcos cooperativos, após décadas de rivalidade.
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O presidente Horácio Cartes aperta a mão do presidente argentino Mauricio Macri na abertura da 49ª Reunião da Cupula do Mercosul. Foto: Jorge Adorno/Reuters.

A maior prova da estatura que o MERCOSUL adquiriu para Argentina está na resiliência do bloco às mudanças políticas e crises econômicas que atravessaram o país. Episódios como a desvalorização do real em 1999 e os contenciosos comerciais com o Brasil demarcam dificuldades do avanço do processo, mas não se traduziram em tentativas concretas de eliminar o bloco; ao contrário, na sequência desses eventos o que se registra são tentativas de “relançamento”, “aprofundamento” ou buscar dar maior “sinceridade” ao bloco, para usar os termos correntes no país.

Com efeito, os ajustes que a política externa argentina sofreu nesse ínterim, muitas vezes mais retóricos que substantivos, não demoveram o MERCOSUL da posição de espaço essencial para a projeção de interesses e objetivos do país. Nos casos dos governos da Aliança (1999-2001) e do kirchnerismo (2003-2015) essa conexão é mais imediata porque foram momentos de reforço do conteúdo mercosulino da política externa. Especificamente nos termos dos Kirchner, além do peso atribuído ao bloco no programa de recuperação econômica do país, o MERCOSUL foi alocado como espaço preferencial para articulação política de sua inserção externa.

Porém, é nos momentos em que a orientação geral do governo relativizava o papel do Cone Sul e atribuía maior peso às alianças extrarregionais que se percebe como o bloco adquiriu relevância. Durante os governos Menem, mesmo que à revelia da vontade do presidente e sua equipe, o MERCOSUL desempenhou um papel relevante no esquema do Plano de Conversibilidade, como fonte de divisas para o equilíbrio cambial que o êxito do plano demandava. Mais recentemente, o governo de Mauricio Macri não tardou em reafirmar a centralidade do MERCOSUL para a Argentina, mesmo num contexto de franca orientação da política externa em direção aos países centrais.

A resiliência do MERCOSUL na política externa argentina de certa forma desmente a interpretação recorrente, e algo caricatural, de que a as relações exteriores da Argentina são erráticas e vazias de linhas de longo prazo. Porém, o aspecto essencial aqui é que o MERCOSUL, hoje, articula e congrega um conjunto de temas e interesses cuja amplitude e relevância inviabiliza a destruição do bloco por iniciativa de governo. Evidentemente, isso não implica minimizar as contradições e dificuldades que o bloco possui e atravessa, algumas delas relacionadas à ação argentina, mas trata-se de um elemento a se ter em vista, sobretudo num momento em que propostas voluntaristas de solução de questões complexas a partir de gestos espetaculares se apresentam como a respostas para todos os problemas.

Matheus de Oliveira Pereira, Mestre em Relações Internacionais pelo Programa em Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Sergipe, é Pesquisador do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais (IEEI-UNESP) e do Grupo de Estudos em Defesa e Segurança Internacional (GEDES – UNESP). Email: matheus.mop@gmail.com

Fonte: Brasil no Mundo

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