Obras literárias descrevem novas tendências do português falado em Moçambique
Em Moçambique, a língua portuguesa está cada vez mais enriquecida com palavras nativas ou expressões resultantes da diversidade regional e do cotidiano. À DW África, docente explica as novas tendências do idioma no país.
As novas tendências da Língua Portuguesa falada em Moçambique são agora descritas em dois volumes noLivro “Português Moçambicano”, lançados no dia no dia 5 de Maio.
O trabalho resultou de uma pesquisa de 15 autores, docentes do curso deste idioma na Universidade Pedagógica de Moçambique. Em entrevista à DW África, a docente universitária Hildizina Norberto Dias falou sobre as novas tendências do português de Moçambique.
DW África: Qual foi o ponto de partida para a criação destas obras sobre o português moçambicano?
Hildizina Norberto Dias: Há muito que nós estamos a trabalhar sobre o português moçambicano. As nossas preocupações, como professores que formam outros professores de português, são notadas no dia a dia, [durante] as nossas aulas, ouvindo as pessoas. Elas falam que a Língua Portuguesa em Moçambique está a sofrer uma série de mudanças linguísticas. E, por causa disso, pensamos estudar esta “Língua Portuguesa” que está diferente, em vários aspetos.
DW África: O que é que se pretende com estas obras?
HD: A finalidade da obra é mostrar ao público e à comunidade linguística, aos professores e a todos os interessados na Língua Portuguesa que o português de Moçambique apresenta [uma] série de mudanças, em vários níveis de análise linguística. Na pronúncia, na fonética e na fonologia. Também a sintaxe, a morfologia e a lexiologia apresentam mudanças. Em Moçambique, temos palavras diferentes. A nossa maneira de falar também é diferente. Estou a falar da pronúncia, por exemplo, e da construção de frases. Trazemos estes exemplos nos artigos. Cada autor aborda um determinado nível, um assunto. Pretendemos mostrar que estamos a ter uma outra direção em relação à Língua Portuguesa.
DW África: Quais são os exemplos que ilustram as novas tendências do português Moçambicano?
HD: Posso falar do nível léxico. Acho que é aquele em que se verificam muitos empréstimos das línguas bantu. Se observarmos, a culinária moçambicana [tem] palavras como matapa, mucapata, tihove, xima. Nós já usamos assim, em qualquer registo e nível de língua. Se eu quero falar sobre a “matapa” eu digo “matapa” mesmo, pois não há nenhum equivalente de tradução para esta palavra. Outros exemplos são os nomes de peixes: usamos as palavras “xicoa” ou “pende”. Em português, chamaria “tilápia”. Mas é muito raro chamarmos ao peixe “pende” como se fosse “tilápia”. [Outra palavra], xitique: em qualquer região de Moçambique, quando nos referimos a essa contribuição que é feita entre amigos, colegas e familiares – e que é uma forma de poupança – dizemos mesmo “xitique”. E esta palavra está a ser usada em toda a nação.
Nos transportes, por exemplo, nós usamos os nomes de “txopela”, “chapa”, “machimbombo”, e são palavras que nos identificam mais como moçambicanos. Sobre a sintaxe, a construção das frases, temos o uso dos pronomes ‘lhe” e “lho”. É mais usual ouvirmos os moçambicanos dizerem “eu vi-lhe”. Então, esta construção está a se fixar e a se consolidar na Língua Portuguesa usada em Moçambique. Outro exemplo: pipocas, em Portugal. A pipoca, nós sabemos que é o milho. Em Moçambique, também é milho como também é um chinelo muito leve.
DW África: Podemos considerar a existência de um português moçambicano padrão para toda a nação?
HD: Estamos a mostrar agora as pesquisas localizadas em determinadas regiões, de onde somos ou onde vivemos. Nós fazemos o levantamento das palavras que entraram [no vocabulário] e a análise destes empréstimos na construção frásica. Vamos ver o que é que está acontecendo em Maputo ou em Quelimane.
A nível da semântica, estamos a dar outros significados a determinadas palavras. [Nas palavras] do sistema de parentesco, por exemplo, eu posso usar a palavra mãe tanto para a minha biológica como para a minha madrasta, e também para uma senhora de uma certa idade. Aqui, em Maputo, é muito frequente usar “mãe”, tia, em vez de “senhora”. Mas nós ainda não estamos a trazer o português moçambicano falado em todo o país, não. Nós estamos a trazer estudos linguísticos localizados.
DW África: Há considerações finais?
HD: Os estudos sobre o português moçambicano não começam hoje, com os nossos livros. Estas obras são a sequência de muitos outros estudos que já foram feitos. Nós também estamos nesta linha, de compilar estes e outros estudos que estão a ser feitos, para mostrar que a Língua Portuguesa em Moçambique está a mudar.
VIA DW África
Deixe uma resposta
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.