Linguista afirma que acordo ortográfico amplia alcance da língua portuguesa
Entre encontros e desencontros, muitas discussões e elaboração de alternativas para difundir internacionalmente a língua portuguesa, o novo acordo ortográfico completa neste ano, uma década
Entre encontros e desencontros, muitas discussões e elaboração de alternativas para difundir internacionalmente a língua portuguesa, o novo acordo ortográfico completa neste ano, uma década.
Contudo, a história da atualização da norma escrita iniciou no século passado, o acordo entrou em vigor em 2009, mas com período de transição até 2016 e há três anos as regras já são obrigatórias.
De acordo com a linguista e professora da URI, Lúcia Balvedi Pagliosa, há mais de 20 anos foram suscitados debates para promover a unificação ortográfica entre os países que têm a língua portuguesa como oficial. “Nesse momento, existia a exigência de que todos os países deveriam assinar o decreto. No entanto, depois foi protocolado uma notificação permitindo que pelo menos três países ratificassem as alterações ortográficas”, destaca Lúcia.
A professora ressalta ainda, que se trata de um acordo e não de uma reforma ortográfica, portanto, além de não ter a pretensão de alterar a modalidade oral da língua, é apenas uma forma de criar convenções para unificar a língua portuguesa. “Muitas pessoas questionavam: “terei que me alfabetizar de novo?” e a resposta é não. Estatisticamente, no Brasil foi mudado cerca de 0,47%, já em Portugal, por exemplo, as modificações ficaram próximas a 2%, ou seja, nós não temos muito a que nos adaptar”, pontua.
Lúcia reforça que a unificação permite ampliar de forma expressiva a circulação de obras em língua portuguesa e potencializa seu uso, sendo que é a mais falada do hemisfério Sul, “afinal, o uso de uma linguagem implica o entendimento de todos os usuários e, por isso, a alteração é apenas na escrita, ou seja, a diversidade cultural ainda é preservada, pois não foi mudada a pronúncia das palavras, somente a grafia”, enfatiza.
Nos últimos anos, a URI tem promovido semestralmente um curso de extensão para auxiliar nesse processo de atualização da escrita em língua portuguesa, coordenado pela professora Lúcia e ministrado por Cássio Lucas, que possui formação em licenciatura em Letras. Conforme o ministrante, a unificação também permite, por exemplo, que a Organização das Nações Unidas (ONU) adote a língua portuguesa como oficial. “A ONU não reconhece como oficial as línguas que possuem mais de uma ortografia. Nestes casos, só a consideram como um dialeto, pois não tem força de língua cultural e com representatividade. Vale ressaltar que só foi alterada a escrita, porque não é uma unificação da língua, mas da ortografia. Assim, ainda continuarão existindo os sotaques, diferenças e riquezas culturais na língua”, destaca Cássio.
Com relação a recepção das pessoas às novas regras, Cássio acredita que não é a maioria das pessoas que está apta a escrever conforme o acordo. “Percebo que aqueles que trabalham com a palavra escrita, tais como, jornalistas, advogados, publicitários e professores de língua portuguesa, estão atentos às regras do novo acordo, no entanto, penso que uma outra parcela da população ainda possui muitas dúvidas”, conclui.
Desafios na escolarização
Para a professora de Língua Portuguesa do Colégio Estadual Professor Mantovani, Nádia Federle, o acordo facilitou significativamente a união entre os países que a utilizam o português como língua oficial. “A língua é um organismo vivo, ela se modifica, se transforma e temos que nos adaptar às novas regras, caso elas estejam sendo implementadas para possibilitar melhoras culturais”, pontua.
No entanto, Nádia percebe que ainda há desafios para melhorar a aprendizagem dos estudantes. “Como professora do terceiro ano do ensino médio, eu noto que estamos enfrentando uma dificuldade muito grande com as novas regras. Percebo que devem ser intensificados alguns exercícios no momento da trajetória escolar em que aprendem essas regras. Outra questão é apostar na repetição de exercícios e leitura para fixar a norma escrita. A resistência de assimilação do novo acordo não é só dos alunos, mas também das famílias e professores, por exemplo”, destaca Nádia.
Analisando o contexto de escola pública, a professora ainda apresenta outras dificuldades, tais como a atualização de obras literárias. “Não temos como nos desfazer de livros se não temos recursos para substituí-los, considerando que são obras de extrema importância e os estudantes precisam ter esse contato. Outra questão é que alguns livros não foram atualizados, portanto, eles acabam lendo com a ortografia antiga”, pontua.
A falta de assimilação das regras entre os estudantes também preocupa o professor de Português da URI, Neivo Zago. “É importante considerar que as alterações são planejadas para melhorar algo, contudo, a praticidade não trouxe benefícios. Algumas modificações são muito difíceis para os estudantes e falantes quando se trata da redação de texto”, pontua.
Outro aspecto que Zago questiona é a motivação comercial do acordo. “Há quem diga que um dos objetivos do acordo articulou interesses comerciais, levando em consideração que as novas regras demandaram a reedição de livros e, com isso, mobilizou editoras, por exemplo”, conclui o professor.
Confira algumas mudanças:
– O alfabeto ganhou, novamente, três letras: k, w e y;
– Não se usa mais o trema;
– Caiu o acentos gráficos em ditongos abertos (ei e oi) das palavras paroxítonas;
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos;
– Caiu o acento das palavras terminadas em eem e oo(s);
– Não se usa mais os acentos diferenciais.
Fonte: Jornal Bom Dia
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