Licenciatura indígena da UFAM é inovadora, diz relatório do MEC

turma Nheengatu cucui

Ensino diferenciado foi demanda de povos do Alto Rio Negro

Licenciatura indígena da UFAM é inovadora, diz relatório do MEC

Todo planejado e aplicado de acordo com as demandas dos povos indígenas da região do Alto Rio Negro, a 1.146 km de Manaus, o curso de Licenciatura Indígena Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável obteve o conceito 5, valor máximo,na dimensão Projeto Pedagógico e 4, na avaliação geral do Ministério da Educação (MEC). Em 2013, a Ufam formou os primeiros 72 profissionais habilitados em Educação Indígena para atuar nas escolas municipais e estaduais.

Criado em 2009, a partir da consulta pública aos povos indígenas da Cabeça do Cachorro, no noroeste do Amazonas, o curso do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) tem uma proposta pedagógica diferenciada por levar em conta os interesses das comunidades em relação à formação de seus professores. Para a coordenadora do curso, professora Ivani Faria, o reconhecimento do MEC vai muito além da autorização legal para o funcionamento do curso, simboliza uma conquista dos povos indígenas. “É reconhecimento da luta do movimento indígena por uma educação realmente diferenciada de acordo com a legislação nacional e internacional sobre educação indígena”, assinalou a coordenadora.

Respeito às línguas e culturas dos povos atendidos é diferencial do curso

Respeito às línguas e culturas dos povos atendidos é diferencial do curso

De acordo com os avaliadores do Ministério da Educação, o curso da Ufam é inédito no Brasil e aposta em uma política educacional inovadora nascida das demandas sociais, da necessidade de valorizar conhecimentos indígenas e as línguas locais.

“A estrutura curricular implantada, com o formato de currículo ‘pós-feito’, por meio de problemas definidos em oficinas com os envolvidos, contempla, de maneira excelente a flexibilidade, interdisciplinaridade, compatibilidade da carga horária e articulação da teoria com a prática. Os conteúdos curriculares implantados possibilitam, de maneira excelente, o desenvolvimento do perfil profissional do egresso visto que partem de suas demandas reais.” (fonte: relatório do MEC)

Completamente diferente de um curso superior tradicional, a Licenciatura Indígena não possui disciplinas ou mesmo uma estrutura curricular pré-definida. Isto porque os próprios estudantes é que elegem as problemáticas, os problemas que serão trabalhados academicamente com a orientação dos professores, compondo o chamado currículo pós-feito, segundo informado pela professora Ivani Faria. “O curso não tem disciplina porque o conhecimento indígena não é fragmentado assim como o nosso, com História e Geografia. O conhecimento deles é integrado”, esclarece.

Estudantes BaniwaA coordenadora afirma que a metodologia adotada se baseia na forma de aprendizagem indígena, partindo da experiência para a construção teórica de epistemologias próprias. Ainda segundo Ivani Faria, durante todo o curso, os estudantes abordam as problemáticas em sala de aula confrontando as visões de mundo das sociedades indígenas à ocidental moderna. “Eles estão num mundo globalizado e precisam interagir com ele”, aponta.

Proposta do curso
Por trabalhar com uma população específica, a Licenciatura Indígena Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável tem como proposta principal ir além da formação de professores, proporcionando aos povos a autonomia necessária para deliberar sobre a realidade que os envolve, levando em conta aspectos importantes para tal, como o domínio da Língua Portuguesa, uma vez que ela é instrumento de comunicação no mundo não índio. “O curso busca afirmar a possibilidade dos grupos indígenas poderem continuar a ser o que são, povos indígenas, no convívio com a sociedade brasileira”, declara o antropólogo e professor do curso, Lino João de Oliveira Neves, ao explicar que isso ocorrerá quando o cidadão indígena se afirmar como tal, não sendo preciso o apagamento da identidade cultural de origem. “Ser brasileiro significa dizer que são indígenas também”, defende.

Professores Lino João, Frantomé Pacheco, Ivani Faria e Eneida Santos

Professores Lino João, Frantomé Pacheco, Ivani Faria e Eneida Santos

De acordo com ele, a formação proporcionada pelo curso tem como referência o contexto amazônico como área de maior população indígena e diversidade étnica do país. “A Licenciatura Indígena em momento algum se esquece desses elementos”, diz.

Ainda segundo o professor, por estar inserido nessa conjuntura, o curso valoriza a sociodiversidade, ou seja, a existência de vários povos com visões de mundo distintas, que podem conviver sem resultar na anulação de uma ou de outra. “A interculturalidade reconhece que nada é único. E é essa complementaridade que nós tentamos estimular e valorizar para que não se perca”, frisa.

O professor Frantomé Pacheco integra a equipe de docentes da Licenciatura Indígena e destaca que essa autonomia é trabalhada em cada etapa do curso, fazendo com que o estudante seja sujeito ativo em todo o processo de formação. Isto é importante, pois, será a principal característica utilizada tanto no contexto profissional quanto social, como liderança dentro da comunidade local. “A ideia é que ao estar em sala de aula, ele saiba como lidar não somente com os problemas que ela vive, mas também com os que a comunidade vivencia”, disse.

O Português como segunda Língua
Para valorizar os conhecimentos indígenas e cumprir a proposta do curso, as aulas no Alto Rio Negro são ministradas tendo a Língua Portuguesa como segundo idioma utilizado. As turmas são organizadas a partir da territorialidade linguística (língua falada pelos estudantes Tukano, Baniwa e Nheengatu), isto para estimular a produção e registro dos conhecimentos em suas línguas. “As línguas não trazem nenhum tipo de valor ou deficiência, é tudo uma questão de adaptação”, ressalta o professor de Linguística, Frantomé Pacheco.

Ainda assim, de acordo com a professora Eneida Alice Gonzaga dos Santos, também linguista, os próprios estudantes solicitam o ensino da Língua Portuguesa por reconhecerem a necessidade de domínio do idioma em razão deste ser a língua falada pela maior parte da população e utilizada nas instituições oficiais e nos documentos. “No entendimento do curso, a língua indígena é um instrumento de comunicação e mais que isso, é um mecanismo de elaboração e reelaboração do conhecimento. Todo o trabalho é diluído dentro das problemáticas que estão sendo trabalhadas e em meio a isso é que é desenvolvida a atividade utilizando o português”, explicou.

Fonte: Portal Ufam

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