Lei gera polêmica ao autorizar o uso de inglês nas universidades francesas

Um projeto de lei, que autoriza as universidades da França a darem aulas em inglês, discutido atualmente pelo Parlamento do país, está causando grande polêmica. A França é um país historicamente apegado à sua língua. Além disso, o país teve muitas rixas no século XX (e em períodos ainda mais antigos) com a vizinha europeia, Inglaterra, sua rival em algumas guerras. Só as gerações francesas mais novas começaram a interessar pela cultura de outros países e a aprender outros idiomas, como o inglês.

A lei Fioraso é um texto de 59 artigos, bem amplo, que trata da reforma do ensino superior em geral. A autorização de cursos em línguas estrangeiras nas universidades é apenas um dos artigos desse projeto de lei, mas ofuscou as demais medidas previstas.

O debate está presente em artigos de opinião de várias publicações franceses.

O governo francês explica que a iniciativa visa atrair estudantes universitários de outros países, sobretudo emergentes, e também professores internacionais que não falam francês. O objetivo seria aumentar a porcentagem de estudantes estrangeiros nas faculdades francesas dos 12% atuais para 15% em 2020.

“Muitos alunos, sobretudo de Coreia do Sul, China, Brasil, Índia e Cingapura, gostariam de estudar na França, mas se sentem desencorajados pelo fato de que é preciso saber falar francês”, afirma a ministra do Ensino Superior, Geneviève Fioraso.

Ela disse também que “é tempo de acabar com a hipocrisia”, já que o inglês já é utilizado em vários cursos nas grandes escolas francesas de ensino superior em áreas como administração e engenharia. Apesar da discussão, somente 1% dos cursos seriam ministrados em inglês pela nova lei, segundo a ministra, e eles se concentrariam nas áreas científica e econômica.

À favor

Apoiam a mudança, por exemplo, o Prêmio Nobel de Medicina pela participação na descoberta do vírus da Aids, Françoise Barré-Sinoussi, e o matemático, Cédric Villani, que recebeu a Medalha Fields.

“Para que a pesquisa francesa possa se impor na Europa, pesquisadores devem se comunicar com seus vizinhos, ou seja, falar em inglês. Na Alemanha, Suécia ou Finlândia isso não é mais questionado”, explica o Nobel da Física, Serge Haroche, outro grande nome da área cientifica que apoia a causa, em reportagem da BBC Brasil.

Contrários

Inúmeros intelectuais e políticos, opositores à medida, afirmam que a invasão do inglês nas faculdades representa uma ameaça à língua francesa. O jornal Libération publicou uma capa toda escrita em inglês na terça-feira (21) para ilustrar a polêmica.

A Academia Francesa de Letras, instituição criada em 1653, alertou sobre os “perigos de uma medida apresentada como uma aplicação técnica, mas que, na realidade, leva à marginalização da língua francesa”.

Um grupo de cerca de 30 deputados socialistas, do partido do presidente François Hollande, chegou a pedir a retirada do artigo do projeto de lei Fioraso.

E as leis

A chamada lei Toubon, de 1994, atualmente em vigor, determina o francês como língua de ensino, concursos e teses. Ela prevê exceções no caso de cursos de línguas e culturas regionais ou estrangeiras ou quando os professores são convidados e estrangeiros.

O projeto de lei Fioraso prevê ampliar essas exceções, permitindo aulas em línguas estrangeiras no âmbito de acordos com universidades internacionais ou de programas financiados pela União Europeia. Ele deverá ser votado na próxima semana pelos deputados e depois será enviado ao Senado.

Fonte:  The Christian Post

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