Importância do IPOL no reconhecimento da Língua Guarani Mbya como referência cultural brasileira é destacada em reportagem
A importância da atuação do IPOL no recente reconhecimento da Língua Guarani Mbya como referência cultural do Brasil pelo IPHAN foi destacada em reportagem veiculada hoje no site Centro de Trabalho Indigenista (CTI). O texto afirma que pela primeira vez o reconhecimento de línguas como referência cultural foi realizado a partir de projetos-piloto, sendo um deles o protagonizado pelo IPOL, que seguiu a metodologia do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) em parceria com as lideranças das comunidades Guarani de seis estados brasileiros. A notícia apresenta também um depoimento de Rosangela Morello, coordenadora do Inventário Guarani Mbya e atual coordenadora do IPOL, além de referenciar o livro-DVD resultante do inventário da Língua Guarani bem como a Revista do Inventário da Língua Guarani Mbya (ILG), que apresenta textos do encontro, também organizado pelo IPOL na cidade de Florianópolis em 2011, em que foram apresentados os resultados e discutidos os encaminhamentos do inventário. Dentre os textos produzidos a reportagem destaca o documento final do encontro, no qual os guarani aprovaram os resultados e reforçaram seu desejo de reconhecimento da língua Mbya como referência cultural brasileira.
A seguir apresentamos o texto da reportagem.
Língua Guarani Mbya reconhecida como referência cultural brasileira
Rafael Nakamura, CTI
Recentemente o Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), por meio do Inventário Nacional de Diversidade Linguística (INDL) reconheceu a língua Guarani Mbya como referência cultural brasileira. A aprovação ocorreu em reunião realizada no início de setembro na sede do IPHAN. Junto com o Guarani Mbya foi reconhecida a língua Assurini do Trocará, ambas línguas indígenas do tronco Tupi, família Tupi-Guarani. Além destas, o INDL também reconheceu como referência cultural o Talian, língua falada pelos descendentes de imigrantes italianos no Brasil.
O reconhecimento das três línguas como referência cultural brasileira foi feito a partir de projetos piloto, baseados em pesquisas que levavam em conta o tamanho da população que utiliza a língua, o grau de apropriação e a plenitude de falantes, entre outras questões. “Estas foram as primeiras experiências com reconhecimento cultural linguístico, feitas a partir de projetos piloto. Foram oito projetos, dos quais três instaurou-se processos para inclusão das línguas no INDL”, explica Marcus Vinicius Carvalho Garcia, servidor do IPHAN.
O projeto piloto relativo ao Guarani Mbya foi elaborado pelo Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (IPOL) de Santa Catarina. A pesquisa do IPOL seguiu a metodologia proposta pelo INDL em suas recomendações de como inventariar a língua e foi desenvolvida conjuntamente com os Guarani, a partir do contato com as lideranças das comunidades já identificadas (acesse aqui o Inventário da Língua Guarani Mbya). “No total conseguimos visitar 69 comunidades, desde o Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, e realizar entrevistas para saber como os falantes definem a própria língua, como ocorre a transmissão através de gerações, os lugares onde a língua circula, além de toda uma pesquisa histórica das comunidades”, conta Rosângela Morello, quem coordenou a pesquisa do IPOL.
Ao fim da pesquisa um livro e um DVD, resultantes do projeto, foram apresentados em um encontro em Santa Catarina que reuniu indígenas guarani de diversos estados. Os guarani aprovaram os resultados e produziram uma carta na ocasião, reforçando seu desejo de reconhecimento da língua Mbya como referência cultural brasileira (veja o Documento Final do Encontro). Para Daniel Pierri, antropólogo do Centro de Trabalho Indigenista, “o reconhecimento da língua Mbya enquanto referência cultural brasileira é importante para afastar os estigmas comumente associados ao povo guarani por seus detratores, que tratam os índios como estrangeiros em sua própria terra”.
A ideia de valorizar as línguas tradicionais faladas por povos que compõem a diversidade cultural brasileira surgiu de um grande encontro em 2006, promovido pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, onde se debateu a diversidade linguística enquanto patrimônio cultural. Neste encontro foi criado o Grupo de Trabalho Diversidade Linguística, formado por representantes da sociedade civil, do Estado e pesquisadores da área. “Coube ao GT Diversidade Linguística conceber e propor as diretrizes que fundamentaram a criação do INDL, que foi instituído pelo Decreto 7387 de 2010”, conta Marcus Vinicius Garcia.
Entre os dias 17 e 20 de novembro próximo deverá ocorrer o Seminário Ibero-Americano de Diversidade Linguística, onde as três línguas já reconhecidas serão certificadas oficialmente em cerimônia conduzida pela Ministra da Cultura Marta Suplicy.
Patrimônio Cultural Guarani
Em parceria com o Centro de Trabalho indigenista e com a Comissão Guarani Yvyrupa, o IPHAN promove também o projeto “Pesquisadores Guarani no processo de Transmissão de Saberes e Preservação do Patrimônio Cultural Guarani” através do qual jovens guarani de diversas aldeias são formados para atuar em pesquisas que colaborem com o fortalecimento e valorização da cultura de seu povo. O projeto já foi desenvolvido nas aldeias do estado de São Paulo e resultou no material, disponível como filme e livro, “A força do Xondaro”, que mostra a importância da dança de guerra para os guarani.
O trabalho se desenvolve agora entre aldeias dos estados de Santa Catarina e do Paraná. Para desenvolver o projeto foram escolhidos 12 jovens pesquisadores que irão tratar o tema da “Mobilidade Guarani”. A escolha dos pesquisadores foi feita pelos guarani em reunião realizada na Aldeia Marangatu, no município de Imaruí (SC). Junto com o coordenador guarani, também escolhido em reunião, e uma equipe não-indígena de formação estes jovens serão responsáveis pela elaboração dos materiais de valorização de sua cultura, tendo como fonte a sabedoria dos parentes mais velhos que habitam em cada aldeia.
Fonte: CTI