Há 250 línguas ameaçadas na Europa e metade vai desaparecer em duas gerações
Mais de metade das 250 línguas minoritárias na Europa vão desaparecer no espaço de uma a duas gerações, concluíram cerca de cem investigadores, presentes no Congresso Internacional sobre Línguas Ameaçadas, que se está a realizar hoje em Minde.
“Estão identificadas 250 línguas ameaçadas em toda a Europa e, a cada duas semanas, há uma que desaparece, quando se perde o último falante”, disse à agência Lusa a presidente do Centro Interdisciplinar de Documentação Linguística e Social (CIDLeS), Vera Ferreira, que organiza o congresso.
“Em todo o Mundo existem 6700 línguas e vamos perder mais de metade dessas línguas no espaço de uma a duas gerações. Identificá-las, estudá-las, preservá-las e divulgá-las é o que nos move, enquanto comunidade científica preocupada em intervir e defender a paleta da pluralidade linguística mundial”, advogou.
O Centro Interdisciplinar de Documentação Linguística e Social, com sede em Minde, Alcanena, organizou o primeiro congresso dedicado a línguas ameaçadas na Europa (ELE 2013 – Endangered Languages in Europe), que reúne, desde quinta-feira, cerca de uma centena de investigadores e linguistas de todos os países europeus e dos “quatro cantos do Mundo”, da Austrália ao Gana, Sri Lanka, Uganda e Nepal, para debaterem e partilharem o estado atual e o futuro das línguas ameaçadas e minoritárias.
“Foi o primeiro Congresso realizado nestes moldes em toda a Europa, e foi um sucesso, desde logo com o cruzamento da informação trabalhada a este nível, em todo o mundo, e aferir aquilo que se faz, não se faz, ou se pode fazer para preservar as línguas minoritárias”, disse a linguista à agência Lusa.
“Uma das conclusões do congresso é sobre a importância premente de investir na tecnologia da linguagem e na linguística documentacional, ou seja, como tratar e desenvolver material didático e de investigação”, apontou.
“É importante dar condições e meios à comunidade falante para preservar, divulgar e ensinar a língua ameaçada, desenvolvendo métodos, técnicas e tecnologias da linguagem para chegar aos jovens em ambiente escolar – no nosso caso ensinando o minderico”, defendeu.
O minderico, ou Piação dos Charales do Ninhou (língua dos habitantes de Minde), está hoje sob a ameaça de extinção, apresentando uma comunidade de mil falantes passivos, 250 falantes ativos, 25 dos quais fluentes e dez não falantes, numa população total de 3293 habitantes.
“É uma língua claramente ameaçada”, notou Vera Ferreira, tendo referido que o minderico está a ser alvo de alguns projetos de revitalização, através de aulas para as várias faixas etárias, formação contínua de professores, criação do primeiro dicionário bilingue acompanhado de uma versão multimédia, ou a utilização do minderico em festas, ementas, placas e preçários da vila.
O Congresso organizado pelo CIDLeS, fundado em 2010 por um grupo de investigadores e linguistas, resultou em convites para estabelecimento de parcerias com várias universidades europeias.
“O ELE [congresso] permitiu a criação de ‘pontes’, e esta iniciativa vai continuar, talvez já em 2014, com projetos e convites de parcerias solicitados por várias universidades europeias, [entre as quais] a universidade de Toulouse, França, a universidade de Vigo, em Espanha, e a SOAS [School of Oriental and African Studies], da Universidade de Londres, que estuda essencialmente as línguas ameaçadas no continente africano”, revelou Vera Ferreira.
O ELE 2013 encerra esta noite com a realização de um Festival de Bandas de Línguas Ameaçadas, na Fábrica da Cultura de Minde, no concelho de Alcanena, em que participam projetos representando as línguas nativas de seis países.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.
Por Agência Lusa
publicado em 19 Out 2013 – 18:36
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