Google investe US$ 45 milhões no aplicativo de idiomas Duolingo
Google investe US$ 45 milhões no aplicativo de idiomas Duolingo
O Google Capital se uniu a outros investidores para apoiar o aplicativo. O criador do app já vendeu duas invenções à empresa
Rafael Ciscati
Quando o Duolingo foi fundado em 2012, analistas da indústria de tecnologia se perguntavam quanto tempo levaria até ele ser comprado pelo Google. O Duolingo é uma plataforma digital dedicada a ensinar idiomas por meio de jogos e atividades. Gratuito, o aplicativo está disponível para qualquer smartphone com acesso a internet (o app tem versões para iOS , Android e Windows Phone). Seu o objetivo, segundo o criador – o guatemalteco Luis von Ahn – é democratizar o acesso ao ensino de línguas. Ao longo dos últimos três anos, amealhou cerca de 100 milhões de usuários em todo o mundo, ultrapassando a marca de concorrentes como a Rosetta Stone. Quando lançado, já era considerado promissor. Parecia natural que o Google se interessasse pela empresa.
Luis von Ahn: “A educação será oferecida através dos celulares”
A compra não aconteceu, mas o interesse do Google se manifestou de outra forma. Nesta quarta-feria (10), o Duolingo anunciou que recebeu uma nova rodada de investimentos, liderada pelo Google Capital – o braço do Google responsável por investir em empresas de tecnologia. Além do Google, investidores antigos – que já haviam apostado no Duolingo – injetaram US$ 45 milhões na empresa. A maior soma já investida na plataforma. Com essa nova rodada, o Duolingo soma US$ 83,3 milhões em investimentos. A empresa está avaliada em US$ 470 milhões.
Com o dinheiro, a intenção é aperfeiçoar o aplicativo e desenvolver melhor iniciativas recém-lançadas. Em janeiro deste ano, o Duolingo começou a ser usado em escolas da América Latina, em um programa educacional que ajuda professores a ensinar idiomas e a acompanhar o desempenho de seus alunos. O Duolingo para Escolas é usado em salas de aula da Cidade da Guatemala, capital da Guatemala, e de San José, capital da Costa Rica.
Um jogo para formar poliglotas
A empresa também quer investir mais em inteligência artificial, para personalizar a experiência do usuário. Contratou sete cientistas da computação especialistas na área – um número considerável para uma empresa com pouco mais de 40 funcionários. A ideia é que, conforme o aluno virtual avance nos exercícios, o aplicativo perceba quais as suas dificuldades e qual a sua familiaridade com o idioma. Digamos que o aluno demore muito para resolver exercícios com adjetivos em inglês. Ainda que ele responda corretamente, a demora indica que a pessoa tem alguma dificuldade com esse conteúdo. Esse tipo de dado permite ao Duolingo remodelar os exercícios seguintes – e incluir mais atividades com adjetivos. “A ideia é que o aplicativo funcione como uma espécie de professor particular, que atenda as necessidades de cada aluno”, diz a brasileira Gina Gotthilf. Gina é a diretora de Comunicação da empresa e assumiu a responsabilidade de coordenar a expansão do Duolingo fora dos Estados Unidos em iniciativas como o Duolingo nas escolas. “A diferença é que um professor particular é caro. O Duolingo é gratuito”. Esse sistema, que acompanha as dificuldades do aluno, já é empregado no teste de proficiência que a empresa lançou em 2014.
A presença do Google entre os apoiadores é uma grande notícia, mas não é exatamente uma novidade. As duas empresas, segundo Gina, mantém boas relações. Em grande parte por causa da proximidade de von Ahn com o Google. Aos 35 anos, Luis von Ahn é professor da Universidade Carnegie Mellon. Antes de criar o Duolingo, ficou famoso por duas outras invenções: em 2005, inventou o ESP Game, um jogo em que os usuários dizem o que veem em uma foto – e, com isso, ajudam computadores a aperfeiçoar seus mecanismos de reconhecimento de imagem; em 2009, von Ahn criou o reCaptcha, um serviço que sites da web usam para assegurar que estão lidando com humanos. Para garantir que é gente de verdade, o usuário precisa reproduzir as letras vistas em uma imagem. Ao fazer isso, ajuda a digitalizar um pequeno trecho de livro, incompreensível para as máquinas. As duas invenções foram compradas pelo Google. Com a rodada de investimentos, a proximidade entre as empresas deve aumentar. Gina diz que os dois parceiros ainda não definiram como vão se ajudar. Os apoios devem incluir troca de conhecimento entre as empresas.
Luis von Ahn fundou o Duolingo em companhia de um de seus alunos de pós-graduação, Severin Hacker. A ideia para criar o aplicativo surgiu quando os dois se viram diante de um problema – como traduzir os sites da universidade, escritos em inglês, para outros idiomas. E, sobretudo, como fazer isso de maneira rápida e sem ter de pagar pelas traduções? A ambição podia parecer meio maluca, mas é assim que o Duolingo ganha dinheiro hoje em dia. A empresa vende traduções para sites de grande tráfego, como Buzzfeed e CNN. Faz isso sem precisar remunerar seus tradutores. São os usuários do aplicativo que, conforme completam as atividades propostas pelo app, traduzem os textos sem saber. O modelo, criativo, coloca as multidões da internet para trabalhar de graça e sustenta a empresa. Mesmo assim, o Duolingo ainda não dá lucro. Em 2014, von Ahn disse a ÉPOCA que não quer, por enquanto, oferecer os serviços de tradução massivamente. Com eles, o Duolingo poderia ganhar mais dinheiro. Segundo o fundador, o foco, por enquanto, são os serviços de educação. O lucro virá mas, por enquanto, é secundário. Seus investidores parecem confiar no que von Ahn diz. Afinal, ele tem um bom histórico de fazer ideias malucas darem dinheiro.
Fonte: Época