Casa Tarumã
Hoje mora com a família num abrigo em Manaus, onde só vivem pessoas da etnia Warao. Na casa Tarumã vivem 130 pessoas, quase metade são crianças.
Orlando Martinez é o cacique, ou seja, a pessoa responsável pela comunidade que vive neste abrigo. “Antes de chegarmos cá, vivíamos na rua. Depois, falamos com o padre. O padre falou com a prefeitura para conseguirmos este abrigo.”
A casa é grande. Há salas e quartos no andar de baixo. Em cima, a cozinha. Nos quartos há redes e colchões. Orlando é dos poucos que fala espanhol. Decidiram seguir para o Brasil, devido às dificuldades na Venezuela. “Quando acabou tudo, quando acabou a comida, quando acabou o trabalho, decidimos vir para cá. Para sobrevivermos.”, explica Orlando, garantindo que na Venezuela tinham uma vida normal.
Orlando garante que foram bem recebidos em Manaus e o mais importante é encontrar trabalho e comida. O grupo começa também a enviar as crianças para a escola.
“Todas as crianças sabem escrever o nome. Acho que há muitas crianças na rua, a pedir dinheiro mas isso não quero. Quero falar com todos para que matriculem as suas crianças na escola”, explica o cacique.
O abrigo é gerido pela prefeitura de Manaus e pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Juliana Serra, assistente de proteção do ACNUR, explica que a casa funciona através de um sistema de auto-gestão. “Temos um ‘aidamo’ que é o líder que coordena a casa. São divididos por famílias. São grandes núcleos familiares e diversas atividades de geração de renda são desenvolvidas. Já tivemos algumas iniciativas envolvendo artesanato. Alguns deles também são autónomos e buscam formas de trabalho diário.”
Os indígenas Warao chegam ao Brasil com grandes dificuldades e, entre os refugiados venezuelanos, são quem mais sofre para começar uma vida nova devido à barreira da língua.
“É uma etnia que vem de uma região do delta do Orinoco, do delta do Amacuro. Alguns vêm da região de fronteira com Trindade e Tobago e é uma etnia que está muito ligada à pesca”, explica Juliana Serra .
O ACNUR tem recebido centenas de refugiados Warao com perfis diferentes, criando “um desafio mas algo muito interessante”.
A assistente de proteção do ACNUR explica que “muitos deles gostariam de voltar ao maior convívio com a natureza, para voltar à pesca, voltar aos seus meios de subsistência”.
Na escola, a professora Adênis Gama confirma que é sobre a natureza que os alunos Warao mais gostam de falar. “Quando eu começo a falar sobre ciência, sobre meio ambiente, eles se envolvem, eles gostam. A gente percebe no olhar a facilidade que eles têm de falar sobre a nossa horta. Foi lindo. Eles começaram a falar a respeito de como se planta, como se colhe.”
Além do meio ambiente, os alunos recebem aulas de língua portuguesa, matemática e recebem informação sobre “a importância de estar aqui connosco. Apesar de toda a dificuldade que eles sofreram na Venezuela, eles estão felizes aqui connosco”.
Do Haiti à Venezuela
A Escola Municipal Professor Waldir Garcia em Manaus também está já habituada a alunos de diferentes nacionalidades. “A gente acha mais engraçado quando chegam os próprios brasileiros porque nós temos muitos alunos haitianos e venezuelanos”, explica a professora Ana Cássia Rosas.
A diretora da escola, Lúcia Santos, garante que fazem o possível para integrar quem chega de fora. “No começo foi difícil porque vinha o preconceito. Os primeiros a chegar foram os haitianos e eles chamavam as crianças de haitiano. E ser chamado de haitiano e não pelo nome era uma ofensa. A gente foi começando a trabalhar esse respeito com o outro, essa acolhida e hoje não acontece mais.”
Nifradson, oito anos, nasceu na Venezuela e está satisfeito por viver no Brasil. “Muito feliz de chegar nessa escola porque já fiz amigos, jogo futebol. Eu gosto muito do Brasil.”
Gosta do Brasil, da escola e do amigo Rosini, que nasceu no Haiti. “Ele chegou primeiro do que eu. E quando eu cheguei na escola a gente era do primeiro ano B. A gente jogava futebol junto, fazia um montão de coisas junto”, conta o haitiano.
Os dois conversam e explicam porque tiveram de viajar até ao Brasil. “Lá no Haiti tem muitas pessoas que já morreram”, atira Rosini. Nifradson complementa: “Lá existe um monte de pessoas que já morreram porque o presidente do Haiti nunca traz comida. Todo o mundo morre. Lá no Haiti tem bandido, existe muitas coisas que ninguém gosta lá”.
No Brasil, garantem os dois amigos, há muitas coisas de que gostam: “Jogar futebol e assistir televisão e brincar”.
Fonte: TSF Rádio Notícias
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