A esperança não se mata, como não se mata o mar e sua dança

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FOTO: Barack Fernandes

Um final de semana para ouvir atentamente cada egressa(o) da 2ª Turma Especial de Direito voltada para beneficiários(as) da Reforma Agrária e Agricultores(as) Familiares, por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária  (Pronera).

E foi ali, em meio as árvores do cerrado, na histórica Cidade do Goiás, que através de desenhos e falas, os(as) estudantes compartilharam com os representantes da CONTAG, da Fetaeg e de vários movimentos sociais, seus sentimentos em relação ao primeiro período do Curso. Histórias como a do educando, Gustavo Maia.

“A distância da família é para mim algo muito novo. Eu nunca havia morado com outras pessoas além de familiares, e está sendo uma experiência maravilhosa, a gente se adaptou muito rápido a cidade, aos vizinhos… Morar com quase 10 pessoas dentro de uma mesma casa, sendo que essas pessoas nunca conviveram juntas e têm suas particularidades é bastante desafiador, porém não deixa de ser prazeroso. Mas, não dá para ficar totalmente tranquilo e focado exclusivamente nos estudos, pois, eu tenho consciência de que a situação da minha família e de todo o meu acampamento é muito difícil, a gente está lutando há muito tempo pela terra, enfrentando constantemente ameaças de despejo, como já aconteceu várias vezes, e a gente ter que desmontar todo o acampamento, se desdobrar ajudando nossos companheiros e companheiras, deixar para trás nossas plantações, sair da terra, e com um destino temporário”, revela.
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FOTO: Barack Fernandes

A vida de Gustavo é o espelho de boa parte da turma formada por mais de 50 alunos(as), de 12 estados brasileiros. Por isso, quem conseguiu chegar até aqui, sabe que os 6 anos do Curso são desafiadores, mas que convocam cada um(a) para cumprir uma lacuna do Direito Social em prol dos agricultores(as) familiares e assentados(as) da reforma agrária.

“O Curso de Direito tem três desafios. Um é resistir a esse momento de golpe que estamos vivendo no Brasil, o segundo é atuar no processo de defesa dos direitos dos trabalhadores(as) e da classe camponesa e, o terceiro é atuar e operar um Direito para transformar e não um Direito conservador que acaba reforçando o processo de exploração no nosso Brasil”,  afirma a educanda da  2ª turma de Direito pelo PRONERA, Jessica Britto.
“Meu maior sonho como agricultora familiar é mudar o campo jurídico e lutar por direitos básicos que nos foram negados”, diz a educanda Alice Raiane.
“A luta pelos direitos do campo e da cidade é de extrema importância nesse momento político atual que estamos vivendo, com corte dos direitos dos trabalhadores(as). Nosso Curso se constitui como uma importante ferramenta na luta pela defesa dos nossos direitos”, revela o educando Hugo Rocha.
“O Curso tem a importância de nos qualificar com as técnicas do Direito para defender  nossa classe camponesa, que é uma classe muito oprimida e que não tem muitos defensores de suas causas no Direito. Portanto, eu acho que temos que ter em mente a função de lutar contra as formas de opressão do capitalismo”, destaca  o educando Antônio Neto.
“Eu estou nesse Curso para depois de estar formada garantir a voz aos agricultores(as) familiares, assentados(as) da reforma agrária, pois a comunidade do campo ela não tem voz no sentido de justiça, de direito”, disse a educanda Leticia Garces de Sousa.
“Penso que através do curso possa contribuir com uma Justiça que olhe para as classes sociais, para as comunidades tradicionais de forma igual”, ressaltou o educando Marlon Correia Vieira Junior.
“Penso em poder atuar melhor na minha militância porque eu também faço parte do Movimento Sem Terra(MST). Chegando no estado já vou começar no setor de Direitos Humanos”, conta a educanda Elis Lima.
“A minha vinda para o Curso é resultado de uma demanda dos camponeses que diz respeito à necessidade de ter alguém que cuide dos processos e das questões de defesa dos trabalhadores(as), compreendendo a importância que é a advocacia popular. O Curso vai cumprir esse papel importante para contribuir na defesa desses Movimentos e desses povos do campo, que têm sofrido muito a pressão do agronegócio e de vários outros interesses”, revela o educando Marcos Bandeira.
“Eu me orgulho de fazer parte de uma turma de Direito voltado às comunidades que historicamente não têm acesso a um Curso de Direito. Atualmente os que existem são voltados para os interesses dos latifundiários(as), dos(as) grandes empresários. Então eu acredito que é uma turma importante, pois vamos sair formados(as) com uma carga social muito grande e em defesa da sociedade”, destaca o educando Adriano Portílio.
 “Nossa turma traz um novo método dos alunos e alunas chegarem na Universidade, porque a partir desse momento a gente tem um elo não tão individualista como as turmas de Direitos atuais, mas um elo de coletividade”, revela o educando Kaio Samuel.
 “Para mim é uma necessidade da minha comunidade e de muitas do Brasil, de termos esse acompanhamento jurídico nos processos, quer seja do MST, da CONTAG, de qualquer organização social, da classe trabalhadora em geral. Vislumbro voltar para minha base onde fui criado e ajudar nesses processos”,  afirma o educando, João Riva.
 “O Curso me permitiu o ingresso em uma Universidade Pública, o que geralmente é muito difícil da gente entrar, sobretudo quem vem da realidade do campo. A alternância entre comunidade e a Universidade permite um melhor aprendizado e consequentemente uma forma de melhor aplicar o nosso aprendizado do Direito na nossa realidade do campo”, Sara Alves, educanda.
“O curso de Direito é um curso fundamental para nós camponeses(as) do Brasil, pois é uma área que historicamente os filhos dos pobres  e dos camponeses não tiveram acesso. Então com muita luta e organização os movimentos populares, sociais e sindicais, conquistamos essa parceria com a Universidade, para desenvolver turmas voltadas para o campesinato brasileiro. Isso é fundamental,  pois acredito que precisamos cada vez mais estarmos inseridos(as) nessas áreas que nunca foram prioridade para nós da classe trabalhadora e sendo nós agentes de direito, temos hoje muito mais condições de defender a nossa situação de assentados(as), de campesinatos por entender na pele e por viver cotidianamente os desafios das questões agrárias e agrícolas nesse País”,  revela a educanda Rosângela Pivisane.
Com olhar de quem é assentado da reforma agrária e tem militância nos movimentos populares, o vice-presidente e secretário de Relações Internacionais da CONTAG, que também é educando da 2ª turma de Direito pelo PRONERA na Regional da UFG, Willian Clementino Matias, sabe muito bem do significado político da conquista do Curso de Direito específico para filhas(os) de trabalhadores e trabalhadores(as) rurais.
“Quero aqui refletir sobre a importância do curso de Direito para Assentados(as) da Reforma Agrária e Agricultores(as) Familiares. Esse Curso por si só já uma conquista, e essa conquista tende a se ampliar, pois após o Curso, nós daremos seguimento a nossas atividades políticas e representativas dos movimentos sociais, juntando nosso conhecimento popular e empírico, com o conhecimento científico, baseado e aprofundado nas questões sociais do nosso Brasil, para assim, podermos fazer de fato o bom combate na defesa da Reforma Agrária, na defesa de um modelo de produção com base na agroecologia, na defesa de uma sociedade do campo e da cidade com a inclusão de fato de jovens e crianças e, sobretudo das companheiras mulheres. Assim, o Curso de Direito é fundamental para dar conta de uma lacuna pendente que tem os movimentos sociais, que é de poder juntar os dois conhecimentos e, afirmar o verdadeiro sentido do Direito para a sociedade, sobretudo, para os(as) camponeses(as) que vivem à margem desse direito”, ressalta em tom otimista.
E como foi apresentado na mística de abertura do bate papo com os(as) educandos(as): “Ensine…  que um povo não se mata como não se mata o mar… Sonho não se mata como não se mata o mar… A alegria não se mata como não se mata o mar… A esperança não se mata, como não se mata o mar e sua dança”. Fica para CONTAG e para todos os movimentos sociais que atuam em defesa dos direitos dos homens e mulheres do campo, o desafio de seguir com as bandeiras hasteadas e o grito na garganta, por um meio rural com perspectiva de um futuro digno.
“Como é bom acompanhar cada depoimento trazido por vocês, que nos apontam para seguirmos sonhando pela interiorização das universidades e Institutos Federais. Seguirmos sonhando por um Brasil que contemple as milhares de famílias que vivem no campo, na perspectiva de terem melhor estudo para seus filhos(as). Uma Universidade que respeita regime de alternância dos tempos de estudos e experiências com currículos pautados na realidade, cultura e luta dos povos do campo. Assim, estaremos  fortalecendo assim a Reforma Agrária”, afirma o secretário de Política Agrária da CONTAG, Zenildo Xavier.
“Saímos daqui muito mais convictos e conscientes que cada vez mais precisamos fortalecer nossos laços de construção coletiva, em unidade com os movimentos sociais para continuar lutando junto ao MEC e PRONERA no sentido de garantir educação do no ambiente acadêmico, com respeito as especificidades do meio rural. Levamos em consideração o cenário posto atualmente é ainda mais desafiador, pois com um provável Governo de Direita que deve assumir, nossa luta será ainda mais dura. Mas, deixamos claro aqui que a CONTAG continuará implementando a bandeira da educação do campo, pois a turma deixou claro, que a Confederação é fundamental nessa luta!”,  destaca emocionado o secretário de Políticas Sociais da CONTAG, José Wilson.
Fonte: Contag.br
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