A diversidade linguística do Espírito Santo
Por: Edenize Ponzo Peres (Ufes)
No século XIX, milhares de imigrantes chegaram ao estado do Espírito Santo, vindos sobretudo da Europa, a qual passava por uma grave crise socioeconômica. Essa situação foi comum aos imigrantes que chegaram às demais localidades brasileiras, mas o Espírito Santo reunia características peculiares: nosso estado, no final daquele século, contava com apenas 190.000 habitantes, que se concentravam no litoral. As serras do interior do estado eram cobertas por densa mata virgem, povoada por animais selvagens.
Os europeus, para chegarem a seus lotes, tiveram que subir as serras a pé, fazendo picadas na mata. Por fim, depois de instalados, verificaram que suas terras não eram tão férteis como lhes havia sido prometido e também não receberam a assistência que esperavam receber
As particularidades da imigração no Espírito Santo, somadas às características geográficas do estado, propiciaram o isolamento da maioria das comunidades de imigrantes, ao passo que outras, instaladas às margens de importantes rodovias federais – a BR 101 e a BR 262 –, tiveram um contato mais estreito com brasileiros a partir da primeira metade do século XX.
As situações descritas nos parágrafos acima originaram uma diversidade linguística no estado das mais interessantes. Hoje, após 200 anos da chegada dos primeiros imigrantes, temos comunidades pomeranas que ainda conservam sua língua ancestral, mesmo entre as crianças; algumas cidades colonizadas por italianos mantêm as tradições dos antepassados, em festas e grupos de dança e de canto; nas zonas rurais, os descendentes de italianos mais idosos ainda falam o vêneto aprendido na infância; na zona urbana, apenas alguns traços da língua de imigração perduram; e, finalmente, temos muitas comunidades/etnias sobre as quais nada sabemos. No mapa a seguir, podemos encontrar os municípios do Espírito Santo colonizados por imigrantes, de acordo com sua nacionalidade.
Para tentar descrever parte da diversidade linguística do estado, em 2010 demos início a um Projeto de Pesquisa intitulado Línguas em Contato: o português e o italiano[1] no Espírito Santo. Tal Projeto, que segue os pressupostos teóricos da Sociolinguística, tem por objetivos, dentre outros: a) formar bancos de dados de fala nas comunidades colonizadas por imigrantes italianos; b) identificar traços das línguas de imigração no português falado pelos atuais moradores dessas localidades; c) investigar quais são os sentimentos dos informantes a respeito de suas origens; e d) descrever a importância desta e de outras variáveis sociais – tais como o gênero/sexo, a faixa etária, o grau de escolaridade e a procedência geográfica – para a manutenção ou a substituição das línguas minoritárias.
Atualmente, as comunidades italianas pesquisadas são:
ANO |
COMUNIDADE |
ALUNOS-PESQUISADORES |
2010 |
Castelo (zona urbana) |
Mayara Brunoro |
Castelo (zona rural) |
Natália Zanelato |
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Marechal Floriano (zona urbana) |
Rita Daniele Liberato |
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Marechal Floriano (zona rural) |
Allan Costa Stein e Andressa Schneider |
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2011 |
Jaguaré |
Rafaele Bozi Arrivabene |
Santa Teresa |
Joyce Leite Marinho |
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Itarana |
Sarah Loriato |
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2012-2013 |
Alfredo Chaves (zona urbana) |
Márcio Fávero Fiorin |
Alfredo Chaves (zonas rurais) |
Beatriz Dona Peterle, Katiúscia Sartori Cominotti e Sílvia Pícoli Meneghel |
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2013
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Cachoeiro de Itapemirim |
Therezinha Fassarela e Priscilla Gevigi |
Laranja da Terra |
Izamara Marquardt |
Há ainda outros estudos realizados sobre a diversidade linguística do Espírito Santo:
ANO |
COMUNIDADES/LÍNGUAS |
ALUNOS-PESQUISADORES |
2010 |
Comunidade quilombola de Boa Vista Roda D’Água |
Disleia Leal Paiva, Simone Marques Moreira e Cristiano Juncá |
2011 |
Diversas/Holandês |
Elizana Schaffel Bremenkamp |
2012-2013 |
Santa Maria de Jetibá/Pomerano |
Elizana Schaffel Bremenkamp |
2012-2013 |
Aldeia Guarani de Aracruz |
Poliana Calazans |
2013-2014
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Comunidade quilombola de Araçatiba |
Augusto Alves |
Ainda sabemos muito pouco das línguas de imigração, no Espírito Santo. Há, entre as serras do estado, muitas comunidades de que sequer temos conhecimento. Dessa forma, é preciso um trabalho bastante árduo, para resgatar essas histórias e descrever a linguagem resultante do contato entre a língua estrangeira e o português. Estamos fazendo uma pequena parte, mas há um imenso trabalho por fazer.
[1] Por italiano devemos entender os diferentes dialetos falados pelos imigrantes italianos que vieram para o estado do Espírito Santo.
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