O português agora quer ser língua oficial nas organizações internacionais
Terceira nas redes sociais e nos negócios de gás e petróleo, a língua portuguesa é a quinta mais falada na Internet. A 2.ª Conferência sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial ocorreu no fim de Outubro em Lisboa.
A difusão da língua portuguesa entrou num “novo patamar” – passou de um objetivo centrado na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para se projetar além-fronteiras. A ambição é também outra quando o Instituto Camões, a CPLP e um conjunto de universidades portuguesas se juntam na organização de uma conferência em Lisboa para desbravar caminhos no sentido da “difusão do português como língua internacional”. “A língua portuguesa já não é apenas a língua dos povos da CPLP”, diz Ana Paula Laborinho, presidente do Instituto Camões.
O mote foi assim lançado para a 2.ª Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, que se segue à 1.ª Conferência de 2010 em Brasília. O evento juntou em Lisboa dezenas de importantes academicos e especialistas da língua portuguesa, nos dias 29 e 30 de Outubro. A conferencia antecedeu reuniões políticas e um conselho dos ministros dos Negócios Estrangeiros da CPLP ao qual foi adotado um Plano de Ação de Lisboa – à semelhança do Plano de Ação de Brasília que em 2010 definiu a internacionalização da língua portuguesa como objetivo comum dos países lusófonos. .
“O esforço de promoção da língua portuguesa entrou num novo patamar depois dos esforços de promoção interna do português”, sintetiza Ana Paula Laborinho, que preside a comissão organizadora da conferência, antes de adiantar resultados e delinear objetivos.
Na Internet, o português já é a quinta língua mais usada. Nas redes sociais – Facebook e Twitter – é a terceira. Também alcançou esse ranking, terceiro mundial, nos negócios de gás e petróleo, em grande parte graças a Angola e Brasil. Entre as áreas a conquistar, estão a ciência e a diplomacia.
Pagar para falar português
Na Assembleia Geral das Nações Unidas, os Presidentes de Moçambique, Timor-Leste e Brasil, o presidente interino da Guiné-Bissau, o vice-Presidente de Angola, o primeiro-ministro de Cabo Verde e os ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e de São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau discursaram em português.
Não é inédito, mas corresponde a uma tentativa de concertação, dentro da CPLP, para “incentivar o uso da língua portuguesa”, explicou o secretário executivo da CPLP, o moçambicano Murade Murargy. “Temos de ser nós a dar o exemplo.” O exemplo começa nos “responsáveis”, enfatizou.
Para tornar isso possível, na Assembleia Geral deste ano, a CPLP teve de pagar 700 dólares por dia (cerca de 550 euros), segundo informou a organização ao PÚBLICO. Os oito países participam em vários dias de Assembleia Geral mas também em reuniões paralelas.
O objetivo na ONU e outras organizações internacionais é ter o português como língua de trabalho (o que tornaria imperativa a tradução em simultâneo das intervenções) ou ir mais longe e conquistar o estatuto de língua oficial (o que faria da interpretação uma ferramenta obrigatória mas também a disponibilização de todo o material e documentação em português). O Presidente da República, Cavaco Silva, manifestou em 2010 esse desejo e desafiou os países lusófonos a incentivar o uso da língua portuguesa nas organizações internacionais, dizendo justificar-se plenamente a sua passagem a língua oficial da ONU.
Na ciência, ao lado do inglês
O caminho é longo mesmo para uma língua com 250 milhões de falantes. Para que seja considerada língua de trabalho, “é preciso que as organizações considerem que ela é suficientemente representativa”, disse ao PÚBLICO o diplomata Rui Aleixo, ex-embaixador na Líbia e atualmente no Ministério dos Negócios Estrangeiros. É desejável uma “ação diplomática dos países interessados”.
Na União Africana, o português tem o estatuto de língua oficial justificado, no entender da organização, pela presença de cinco Estados (os países africanos de língua portuguesa). O mesmo acontece na União Europeia, que adotou todas as línguas dos países-membros. Em organizações regionais, como a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) ou a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), o português também é utilizado.
A ambição de internacionalizar a língua portuguesa estende-se também à área científica, e esse foi um dos temas da conferência de Outubro. “A língua de ciência a nível mundial é o inglês. Mas isso não significa que outras não se assumam como línguas em que se pode escrever o resultado da ciência realizada”, disse o professor universitário Ivo de Castro, que presidiu a comissão científica da conferência. Este objetivo não é pensado “contra o evidente domínio do inglês”, mas apenas porque, “ao lado do inglês, há espaço para outras línguas científicas”.
Fonte: Público Portugal
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