Música para surdo ouvir: através das libras, coral propõe acessibilidade
O grupo de coral para pessoas com deficiência auditiva foi criado na UESPI
Imagine um mundo sem sons. É assim que vivem mais de 344,2 mil pessoas surdas no Brasil, dentro de um número maior de 9,7 milhões de brasileiros que possuem alguma deficiência auditiva, segundo o Censo de 2010 do IBGE. Ciente desta realidade, a Professora Amanda Beatriz, docente do Curso de Letras da Universidade Estadual do Piauí – UESPI iniciou junto com uma turma de alunos e ex-alunos da instituição um grupo de coral para surdos.
Amanda teve contato com a disciplina de Libras ainda como aluna do Curso de Letras Português, no qual se formou em 2013, e logo descobriu um caminho a ser percorrido como docente. “A Libras teve início na minha vida por meio de uma disciplina que que paguei na graduação de apenas 30 horas, e isso despertou meu interesse; aquilo me encantou e fui atrás. Fiz cursos por instituições de ensino como a ASTE e Senac, me formei no Curso de Letras/Português e depois, já em 2014 retornei à casa como professora”, relembra.
O concurso que Amanda fez para tornar-se docente da UESPI, foi justamente para a área de Letras/Português com Habilitação em Libras. Agora ela ministra e torna a disciplina conhecida para outros alunos e alunas como Karla Santos, que está no oitavo período e é uma das componentes do Coral para surdos. “Vamos nos formar agora em 2017, e conhecemos as Libras através da professora Amanda. Até chegar a essa disciplina eu não tinha noção para onde ia a Libras; depois disso, passamos a ter mais contato com a linguagem de sinais. A didática utilizada em sala de aula nos colocou no mundo dos surdos e das libras”, afirma Karla.
Este ano durante o II Encontro Nacional de Letras – realizado entre 12 a 16 de setembro – um grupo de alunos surpreendeu a plateia com uma apresentação de músicas em Libras. “Como a turma em que ministro a disciplina se encantou e se desenvolveu muito durante o semestre, eu perguntei se eles não queriam participar com uma apresentação toda sinalizada para a abertura do evento e fiquei satisfeita quando aceitaram. Então foi algo realizado por mim, por eles e por pessoas da comunidade”, conta Amanda.
O grupo é formado atualmente por 14 pessoas entre graduandos, graduados e comunidade que tem se apresentado publicamente e como convidados em eventos da UESPI. Recentemente se apresentaram no Parque Potycabana, dia 26 de setembro, nas comemorações do Dia Nacional do Surdo. “Os ensaios para o evento de Letras, por exemplo, realizamos em 3 semanas, onde praticamos duas vezes na semana, até nos domingos à noite. As músicas foram escolhidas pela mensagem que passam, diante dos conflitos que vivemos hoje, como é o caso da música dos Titãs, É preciso saber viver“, explica. Durante as apresentações, enquanto a música é executa para os ouvintes, a letra é interpretada com os sinais mais próximos ao significado correspondente a língua de sinais para os surdos.
É preciso saber viver. É preciso saber “ouvir”
Segundo a Lei Nº 10.436, de 24 de abril, de 2002, a Língua Brasileira de Sinais – Libras é reconhecida como uma língua com estrutura própria, sendo portanto a Segunda língua oficial do Brasil. A UESPI oferece todos os anos o curso de extensão em Libras, por meio da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Acadêmicos – PREX, através do projeto “Mãos que falam”, de autoria da Profa. Dra. Margareth Torres de Alencar Costa, ministrado no Campus Poeta Torquato Neto, em Teresina. Outros municípios oferecem o curso Língua Brasileira de Sinais, cuja autora é a Profa. Dra. Conceição de Maria Carvalho Mendes.
A Profa. Socorro Gonçalves, que ministra a disciplina de Libras na UESPI, ressalta a necessidade da conscientização sobre o aprendizado da Língua de Sinais pela sociedade. “Sabemos que o surdo encontra-se em todas as esferas. Penso eu que o estado deveria implementar o ensino de libras desde as séries iniciais. Não basta somente incluir o surdo na sala de aula, é preciso capacitar os professor, toda equipe pedagógica, desde o porteiro até o gestor da escola”, pontua.
Lanna Caroline de Almeida, outra integrante do Coral, também foi aluna de Letras da UESPI. Agora mestranda, ela destaca que o ensino para pessoas surdas ainda precisa ultrapassar muitas barreiras. “O ensino hoje ainda é muito fraco. Só temos uma escola na capital [que é o Matias Olímpio] que acolhe o surdo, e isso é insuficiente. Esperamos que aumente o número de escolas para que o surdo possa escolher onde quer estudar. O surdo não tem que ficar só em casa, ele precisa sair também e a acessibilidade tem que ir junto com ele”, afirma Lanna.
As alunas Lanna e Karla acreditam que é preciso avançar na preparação de professores para a sala de aula, isso seria possível com a oferta de cursos de extensão voltados para o ensino, na opinião das alunas. Para a Profa. Amanda Beatriz é preciso discutir a Lei das Libras, e o acesso a locais públicos para o surdo “Nós ainda precisamos quebrar essa resistência que existe na sociedade em tornar isso acessível, inclusive na academia[universidade], e entender que o surdo precisa ter acesso assim como os ouvintes”, finaliza.
Fonte: Capital Teresina
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