Primeira webrádio indígena do Brasil transmite para mais de 40 países
Primeira webrádio indígena do Brasil transmite para mais de 40 países
Matheus Chaparini
A ideia era construir uma rádio onde os indígenas falassem para seus iguais: utilizando linguagem própria, respeitando cada etnia e com um suporte técnico que permitisse chegar até as aldeias.
O projeto foi desenvolvido durante três anos até se tornar realidade, em 2013. A Rádio Yandê é a primeira webrádio indígena do Brasil. Através da internet, a Yandê transmite música, debates, palestras e conteúdo jornalístico para mais de 40 países.
Apesar de ter nascido no Brasil, o país é apenas a segunda maior audiência. Perde para a Croácia.
O idealizador da rádio, é um gestor de marketing baiano que vive na capital do Rio de Janeiro: Anápuáka Muniz Tupinambá, que esteve em Porto Alegre para participar do Territórios sem Fronteiras, programação paralela ao Fórum Social que acontece na Casa de Cultura Mario Quintana.
Anápuáka transmitiu ao vivo algumas atividades da programação, como uma mística com os Kaingang do Paraná.
Além de Anápuáka, a equipe da Yandê é formada pelo publicitário Denilson Baniwa e pela jornalista Renata Tupinambá, ambos de NIterói, também no Rio. “Juntamos nossas experiências de aldeia e nossas experiências profissionais, para conseguir olhar com os dois olhares, entender como funcionam os dois mundos.”
O trabalho funciona através de uma plataforma de gerenciamento on line. A programação é montada semanalmente, mas qualquer um dos três pode fazer alterações ou interromper a programação para fazer uma entrada ao vivo.
O fator tecnológico
O primeiro desafio era conseguir a tecnologia necessária para transmitir com qualidade mas em um formato “leve” – já que a população indígena no Brasil usa internet de smartfone, com pacote de dados, que não suporta arquivos muito pesados – e sem gastar demais.
“Tivemos que pensar em uma transmissão de streaming que chegasse na ponta com 32K, enquanto o comum das webrádios é 128K”, explica Anápuáka.
Depois de muita procura, inclusive no exterior, eles encontraram uma empresa brasileira que tinha a tecnologia de que precisavam.
Outras questão importante enfrentada foi a criação de uma forma própria de comunicar. “Não adianta chegar com uma linguagem de AM ou de FM ou mesmo das rádios comunitárias. São linguagens que não têm nada a ver com a questão indígena”, aponta.
A linguagem tem de ser acessível a todos, mas em relação ao idioma há uma flexibilização. Como são diversos grupos étnicos no país, com línguas próprias, o conteúdo da rádio é transmitido em diferentes dialetos nativos, sem tradução.
Em busca de correspondente gaúcho
Além do trio que comanda a rádio, a equipe conta com correspondentes em Brasília e no Mato Grosso do Sul, com autonomia para produzir e veicular conteúdo, além de colaboradores, que passam informações que subsidiam as matérias produzidas pela rádio.
No Rio Grande do Sul, não há nenhum representantes da Yandê, mas Anápuáka afirma que já está em contato com possíveis futuros correspondentes.
O Fórum Social sempre possibilita contatos e encontros entre diversas iniciativas. De um destes encontros está surgindo uma parceria. O restaurante Itacacá especializado em culinária amazônica, que está instalado na CCMQ até o sábado à noite, passará a ter uma coluna sobre culinária na Rádio Yandê.
Fonte: Jornal Já