O papel da língua portuguesa: o português em debate na Sorbonne
Entre o português como língua de trabalho e como língua de cultura, o objetivo é fazer com que o português deixe de ser visto em França “como uma língua de imigração”.
Quarenta anos depois do grande fluxo migratório que chegou a fazer da capital francesa a segunda maior cidade portuguesa, é ainda preciso “quebrar de vez com a ideia do português como língua minoritária, de imigração”, diz Isabelle Oliveira, diretora da Faculdade de Línguas, Civilizações e Sociedades da Sorbonne e presidente do comitê organizador do Congresso Internacional de Língua e Culturas Lusófonas no Mundo, a decorrer na terça e quarta-feira em Paris, entre o Instituto do Mundo Anglófono da Sorbonne e a sede da UNESCO, co-organizadora do evento. Este encontro, ao contar com a presença de representantes dos países de língua portuguesa e institudos como a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e o IILP (Instituto Internacional da Língua Portuguesa) pretende questionar e refletir sobre o valor da língua e como estimular seu uso no mundo.
Na Sorbonne, explica Isabelle Oliveira, há 100 alunos portugueses, lusodescendentes ou falantes de português oriundos dos vários países da CPLP a estudar a língua. A estes juntam-se outros 100 alunos de outros países. Isto faz com que o português seja a terceira língua mais procurada da universidade, depois do inglês e do espanhol. Por outro lado, segundo esta responsável, os grandes autores em língua portuguesa são também estudados. Aquela que aponta como uma “falta de consideração pela língua” deve-se, na sua opinião, ao fato de “os ministérios [franceses] ainda não perceberem o crescimento gigante e o peso econômico do português no mercado” internacional.
Portanto, o evento pretende lançar uma reflexão sobre os desafios socioculturais que enfrentam a utilização e o ensino do português. O uso do português como ferramenta comercial é outro aspecto a ser discutido em um dos painéis, tendo como pano de fundo o dinamismo da economia de certos países como Angola, Moçambique e Brasil. Este tema será trabalhado na quarta e última sessão de terça-feira do congresso, tendo como intervenientes Meilyn Teodoro, secretária-geral da Câmara de Comércio Franco-Brasileira, Carlos Vinhas Pereira, presidente da Câmara de Comércio Franco-Portuguesa, Luciana Gouveia, secretária-geral da Associação Cap Magellan, e, como convidada, a ex-ministra Maria de Belém Roseira, presidente do PS, Portugal. Para alguns países onde se falam muitas línguas, como Moçambique, o português também é estratégico para a unidade nacional, como falou à RFI Alexandre da Conceição Zandamela, embaixador de Moçambique na UNESCO. “Moçambique conta com vários agrupamentos étnicos; se eu me deslocar 200 km, se calhar já não me comunico mais com os grupos dessa área, então o português, além de ser a língua oficial, é a língua da unidade nacional”, disse Zandamela.
Representantes de países da CPLP discutem estrategias para valorizar o Português.
As primeiras sessões do congresso, contudo, dedicam-se a temas como o português enquanto língua de comunicação e cultura, os novos desafios do ensino do português e as possibilidades de promoção do multilinguismo no palco internacional. Na quarta-feira, discutir-se-ão estratégias para fomentar uma política de cooperação científica, a evolução do português nas práticas da comunicação social em Portugal e as lógicas de internacionalização da informação, o lugar e a função do português nos organismos internacionais. Gilvan Muller de Oliveira, diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (ILLP), com sede em Cabo Verde, falou sobre o atual plano de ação estabelecido em Brasília em 2010, que inclui a formação de um vocabulário ortográfico comum, que finalizará os trabalhos da preparação e implementação do acordo ortográfico, e a plataforma do professor de português como língua estrangeira.
Na cerimônia de encerramento, o poeta e ensaísta Nuno Júdice e o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, apresentarão testemunhos sobre as suas vivências culturais na lusofonia.
O diretor adjunto do PÚBLICO Miguel Gaspar modera o debate sobre a evolução do português na comunicação social e as lógicas de internacionalização da informação, estando na mesa desta terceira sessão do segundo dia do congresso Miguel Martins, da secção lusófona da Radio France Internationale, Maria Alencar, da secção Brasil do mesmo órgão, José Arantes, diretor do serviço internacional da RTP, Fernando de Sousa, correspondente europeu da SIC, e José Alberto Carvalho, diretor de informação da TVI.
Marcelo Dantas, ministro conselheiro da Cultura do Brasil, acredita que o português tem potencial para ser a sétima língua oficial da ONU. Ele falou ainda sobre estratégias para estimular o ensino do português em comunidades vivendo no exterior, como no caso de brasileiros no Japão ou nos Estados Unidos. Dantas acha também que o português deve ser mais utilizado para textos científicos, citando o exemplo de pesquisadores brasileiros que privilegiam o inglês para seus relatórios, por causa de uma maior visibilidade.
Fonte: Público.Pt e RFI
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