Na Austrália, uma ilha de 500 pessoas possui 9 idiomas diferentes
Na comunidade Warruwi, o inglês mais uma porção de línguas indígenas se misturam nas conversas cotidianas – e todo mundo se entende
Warruwi fica localizada ao norte da terra dos cangurus, em uma pequena ilha chamada South Goulburn, e é a principal cidade do lugar. Por lá, os habitantes falam entre si nada menos do que nove línguas diferentes, vindas de famílias de idiomas igualmente distintos. A mais comum delas chama-se mawng, mas há outras línguas indígenas, como o bininj kunwok, o yolngu-matha e o burarra. O inglês também está presente, mas aparece como segundo ou terceiro idioma dos moradores.
A população de Warruwi é majoritariamente indígena, e a quantidade de moradores varia de acordo com os períodos de chuva e seca da região. E não, eles não são poliglotas: mesmo não falando os nove idiomas, todo mundo consegue se comunicar devido a um fenômeno chamado multilinguismo receptivo.
Haja dicionário
Entender como os moradores de lá se entendiam em meio a tantos idiomas foi o desafio de Ruth Singer, linguista da Universidade de Melbourne e que analisou durante alguns anos o cotidiano dos nativos de Warruwi.
Em uma entrevista ao site The Atlantic, Singer revelou que, ao chegar na ilha, ela logo percebeu um diálogo, no mínimo, incomum. Um casal se comunicava com dois idiomas ao mesmo tempo: enquanto o homem falava em yolngu-matha, a mulher respondia em mawng.
O fenômeno que acontece na ilha – o tal do multilinguismo receptivo – é a capacidade de entender vários idiomas, mas não necessariamente falar usando eles. Ele acontece, na maioria das vezes, de maneira acidental. Moradores de cidades na fronteira com outros países, por exemplo, acabam compreendendo o idioma vizinho.
Em alguns lugares, o multilinguismo receptivo foi incorporado oficialmente no país. Na Suíça, há quatro idiomas oficias e as crianças aprendem já na escola a assimilar todos eles. Na Austrália, o fenômeno aparece em registros de exploradores desde o século 18. A comunidade Warruwi é um dos poucos lugares do país em que essa prática se mantém preservada.
Em uma visita à Universidade de Oslo, na Noruega, Singer disse que o modo como os moradores de lá se comunicam mostra a complexidade social e linguística de populações indígenas. Em sua pesquisa, ela concluiu que a linguagem está intimamente ligada à identidade local. Em um mundo onde um idioma morre a cada 14 minutos, o modo que eles encontraram para conversar – sem que ninguém ficasse perdido – pode ser uma forma de preservar as línguas nativas.
Por Rafael Battaglia
Fonte: Super Interessante
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