Mostra de Filmes Línguas & Identidades

O Brasil é um país multilíngue!

A mostra reúne filmes (o audiovisual em ficção, documentário, vídeo-arte) que abordam a questão linguística pelos recortes da cultura e da identidade dos povos para fomentar debates com a plateia, complementar ou estimular a reflexão sobre cenários sociais e promover a discussão da alteridade, diversidade e identidade na América Latina, em especial no âmbito dos países fronteiriços com Brasil.

LOCAL: Sala de Cinema do CIC
08/11: das 14h às 17:30h
09/11: das 14h às 19:30h

EVENTO GRATUITO

A necessidade de reunir filmes documentários, ficção e de arte que abordam diretamente ou tangencialmente a questão das línguas e ou das culturas que existem e sobrevivem dentro do território brasileiro, representa mais um passo para a visibilidade necessária da diversidade linguística brasileira, contribuindo assim para a difusão, discussão e reconhecimento da ideia de que sendo plurais, somos mais diversos e isto é uma riqueza inestimável.

Baixe a programação completa aqui: PROGRAMAÇÃO MOSTRA

De acordo com estudos, o país tem quase três centenas de línguas faladas em seu território. São línguas indígenas (autóctones), de imigração (alóctones), de afro-descendentes, crioulas, de sinais e ainda as variações dialetais da língua oficial do país, a língua portuguesa.

Desde o início do Século XXI, a partir de possibilidades contidas na Constituição Brasileira de 1988 nos artigos 13, 30, 215 e 216, uma série de passos vem sendo dados para transformar a condição de monolinguismo histórico em algo plural e diverso através de duas políticas públicas colocando o país em sintonia com o restante do mundo. De um lado a política de Cooficialização de Línguas que, através de lei municipal, possibilita que outras línguas presentes na região e usadas pela população local sejam reconhecidas como cooficiais no município, facultando a seus falantes reconhecimento e novas possibilidades de uso da sua língua materna. Iniciada em 2002 em São Gabriel da Cachoeira com a cooficialização das línguas Tukano, Baniwa e Nheengatu, essa política inclui hoje 30 municípios de 7 diferentes estados, abarcando as línguas Talian, Pomerano, Hunsrickisch, Alemão, Guarani, Akwê Xerente, Macuxi e Wapichana. A outra política é a do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) que através de um conjunto de etapas de pesquisa pode alçar uma língua à condição de referência cultural brasileira por ser falada há mais de três gerações ou há mais de 75 anos. É o caso do talian, uma língua da região do Vêneto, Itália, trazida ao Brasil pelos imigrantes italianos no século XIX e agora presente em centenas de municípios brasileiros no RS, SC, PR, MS e ES. Outra língua com esse título de reconhecimento é a língua guarani mbya, língua original, autóctone ou indígena, que é um símbolo de resistência de um povo que vem sendo oprimido desde a época da chegada dos navegadores portugueses ao Brasil em 1500. Em todos os casos, essa língua materna, língua primeira dessas comunidades, é o veículo para a preservação da cultura e história dessas comunidades formadoras do Brasil. O reconhecimento e a melhora das condições para seu uso corrente nas comunidades é uma das garantias para uma cultura brasileira plural e multilíngue.

As diversas línguas brasileiras, apesar de presente há centenas de anos no Brasil, só recentemente vêm sendo tematizadas e promovidas, contribuindo para elevar a autoestima de populações relegadas pelo preconceito a uma condição reduzida e também para fazer valer pelo direito constitucional a preservação de sua cultura e marcas identitárias. O IPOL, Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística, fundado em 1999, é um dos principais atores nesse cenário nacional e participa ativamente das frentes de trabalho para o desenvolvimento de políticas linguísticas brasileiras. Foi indutor das ações para as primeiras leis de cooficialização de línguas no alto amazonas, atuou na linha de frente da proposição para a criação do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) e um dos integrantes do Grupo de Trabalho da Diversidade Linguística (GTDL) que concebeu as diretrizes políticas e metodológicas para o desenvolvimento dos inventários de línguas. Realizou um dos projetos piloto para o INDL, o da Língua guarani mbya, concluído em 2014 com a língua reconhecida como Referência Cultural Brasileira. Além disso, é parceiro nos inventário de LIBRAS, hunsrückisch e pomerano.

Peter Lorenzo
Curadoria e Organização do IPOL

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