Ibéria e o sonho da unificação
Por: Wesley S.T Guerra – Colaborador Voluntário Sênior
Espanha e Portugal já foram unidos em um período chamado União Ibérica, o qual durou 60 anos, indo de 1580 até 1640. Antes mesmo da existência do Estado Moderno, a região já era conhecida pelos gregos pelo nome de Ibéria, e posteriormente Hispania pelos romanos, havendo sempre um elo entre os diferentes grupos presentes na península, os quais dividem o mesmo território ao sul dos Pirineus.
Embora o processo de formação territorial e nacional de ambos os Estados não tenha sido tão simples e existam múltiplas dimensões da identidade nacional, até mesmo variedade de identidades, existem pontos comuns na formação de ambas as nações e em sua evolução político-social.
A sinergia que há entre os dois países e a dinâmica territorial de ambos influenciou também os territórios conquistados durante suas expansões pelas américas, havendo uma identidade ibero-americana que persiste atualmente e que orienta organizações tais como a OEI – Organização de Estados Ibero-americanos.
O Iberismo, dessa forma, atua como uma identidade supranacional ou multinacional histórica, cujas raízes podem estar fundamentadas na religião, no idioma, na cultura e em um passado comum, havendo movimentos que tentam promover uma reunificação ou fortalecimento dessa identidade, tal como a demanda de oficializar o portunhol ou anexar Portugal à Espanha.
Com esse objetivo, foi assinado no dia 1o de outubro de 2016 a chamada Declaração de Lisboa, que dá origem a um novo Partido – o Iber, ou partido Ibérico – com presença em Portugal e Espanha e que se apresentará às eleições europeias de 2019, sendo seu principal projeto a unificação da Espanha, Portugal e Andorra, ou a criação de uma confederação ou território unificado semelhante ao modelo da Suíça, ou ao modelo do Reino Unido.
O movimento possui simpatizantes tanto na Espanha como em Portugal, sendo em sua grande maioria intelectuais que advogam por essa união. O partido Ibérico surge em plena crise de governabilidade da Espanha e com o avanço do processo nacionalista catalão, um reflexo da eclosão de diversos pontos de tensão acumulados ao longo da história, e dos efeitos das mudanças regionais dos últimos anos.
A Espanha possui diversos movimentos nacionalistas (catalão, basco, galego, canário). Já Portugal sofreu com a perda de suas últimas colônias africanas na década de 60 e com sucessivos ciclos migratórios que moldaram sua composição demográfica, bem como o equilíbrio da mesma. A unificação dos dois Estados pode parecer utopia no cenário atual, mas, por outro lado, poderia representar o ponto de equilíbrio necessário, frente a multiplicidade nacional, cultural e linguística de ambos os países, além de um novo modelo político capaz de abranger os diferentes níveis de autonomia e balancear os interesses de cada região, criando um elo capaz de unificar a conturbada península Ibérica e colocar fim a anos de disputa territorial.
A meta do novo partido Ibérico é Unificar através das semelhanças e não através da exposição e massificação das diferenças, isso em uma Espanha que está sem Presidente desde 26 de dezembro de 2015 – devido à falta de consenso no Congresso – e em uma Europa cujo discurso de integração é cada vez mais fraco.
Fonte: www.jornal.ceiri.com.br