As línguas da América Latina e sua importância no mundo: espanhol, português e línguas indígenas

Que línguas são usadas na América Latina? Quantas pessoas falam espanhol, português, aimara, quechua ou guarani? Até que ponto são importantes em um mundo globalizado? Espanhol, português e línguas indígenas têm diferentes cenários, mas sua análise e estudo são, em qualquer caso, necessários para conhecer o mundo latino-americano do passado, presente e futuro.

As análises das línguas existentes na América Latina são feitas principalmente por instituições oficiais da língua como o recente Anuário 2012. O espanhol no mundo do Instituto Cervantes, ou a Unesco com seu Atlas de línguas em perigo, mas também por instituições que analisam a economia global e as situações sociopolíticas atuais como o Real Instituto Elcano ou como Bloomberg. Sem línguas não há possibilidade de se realizar atividades comerciais, nem políticas, nem de se comunicar nada. Por isso, faremos um resumo da situação do espanhol, do português e das línguas indígenas com algumas informações relevantes.

As línguas da América Latina no mundo dos negócios

Segundo o Instituto Elcano, “Compartilhar o espanhol aumenta em 290% o comércio bilateral entre os países hispanofalantes”.

Como se diz no recente Anuário 2012. O espanhol no mundo do Instituto Cervantes: “A importância econômica de uma língua mede-se levando em conta diferentes fatores, como seu número de falantes, sua extensão geográfica, o número de países nos quais é tida como oficial, o índice de desenvolvimento humano de seus falantes (que combina nível educativo, esperança de vida e renda per capita), a capacidade comercial dos países onde essa língua é oficial, sua tradição literária ou científica ou seu papel na diplomacia multilateral. Atualmente, o inglês se destaca em todos estes critérios” Mas sem dúvida, tanto o espanhol como o português são línguas importantes para os negócios no mundo global, além do inglês. Ao menos isso é o que se deduz da informação proporcionada por Bloomberg: “The language of Business”.

O espanhol

Em 14 de janeiro de 2013, o Instituto Cervantes apresentava o informe Anuário 2012. O espanhol no mundo, que contém várias seções e temas de estudo sobre a situação mundial do espanhol. Uma parte importante do Anuário é dedicada à necessária promoção desta língua na região Ásia-Pacífico. A seção 1. O espanhol, uma língua viva, (2012) nos mostra a importância que o espanhol tem: “Com cerca de 500 milhões de falantes, a língua espanhola é hoje, depois do chinês, a segunda língua do mundo por número de usuários. E é o segundo idioma de comunicação internacional, atrás do inglês. Dentro de três ou quatro gerações, 10% da população mundial se entenderá em espanhol. Os Estados Unidos será o país com maior volume de população hispanofalante do planeta, na frente do México.”

O espanhol, a segunda língua mais falada do mundo.

América Latina será a região do mundo com maior número de pessoas que utilizam o espanhol como língua  principal, com quase 400 milhões de pessoas. Assim se distribui o mundo hispanofalante na Espanha e América Latina. 19 países do mundo americano têm o espanhol como língua oficial. México está liderando com mais 112 milhões de pessoas. Os dados foram retirados do próprio relatório do Instituto Cervantes:

País Hispanohablantes
México 112.336.538
Colômbia 46.485.485
España 46.185.697
Argentina 40.117.096
Perú 28.220.764
Venezuela 27.150.095
Chile 17.402.630
Guatemala 14.713.763
Ecuador 14.483.499
Cuba 11.241.161
Bolívia 10.426.154
Republica Dominicana 9.378.818
Honduras 8.385.072
Paraguay 6.337.127
El Salvador 6.183.000
Nicaragua 5.815.524
Costa Rica 4.301.712
Puerto Rico 3.725.789
Panamá 3.405.810
Uruguay 3.251.526
TOTAL 416.144.856

A língua espanhola que chegou primeiramente às ilhas do Caribe em 1492, se estendeu rapidamente através da América com os colonos procedentes principalmente de Andaluzia e Extremadura, mas também de outras partes da Espanha, que se estabeleceram ali nos séculos XVI e XVII (ao redor de 200.000 pessoas nesses primeiros séculos). Hoje é falado ali por algo mais de 370 milhões de latino-americanos. Ainda que o Relatório do Instituto Cervantes tenha sido apresentado em Madri, suas conclusões afetam a todos os países da América Latina citados anteriormente. O espanhol é uma língua importante para a cultura, para os negócios, para a política e para a comunicação na rede. Não só é usado nas relações entre estados dessa região, mas também entre estes e outras partes do mundo como Espanha, e algumas partes dos Estados Unidos.

Nos Estados Unidos, a comunidade hispanofalante cresce em importância e não é apenas a língua dos guetos, como se comentou há algum tempo. Ignacio Olmos, do Instituto Cervantes em Chicago, comentou há alguns meses: “Há estudos recentes que estabeleceram que o domínio do espanhol no mercado trabalhista estadunidense vem a significar uma média entre US$7.000 e US$8.000 a mais de salário bruto anual. A concorrência em espanhol supõe uma vantagem econômica demonstrada”, assegurou Ignacio Olmos, do Instituto Cervantes Chicago, em notícias da BBC .

Portanto, o espanhol é um bem econômico da comunidade hispana que merece ser cuidado, protegido e promovido. Especial para o mercado dos Estados Unidos, o principal cliente do México e também para Ásia- Pacífico, importante para a comunidade latino-americana cuja economia está atualmente se abrindo no mercado asiático. Os investimentos chineses no Chile são um exemplo. Curiosamente, o espanhol chegou cedo a esta região. Em 1521, com a chegada de Magallanes às Filipinas, chegaram as primeiras palavras espanholas na Ásia Pacífico e, ainda hoje, o idioma tem uma terça parte das palavras de origem espanhol.

No Brasil, o espanhol é falado de forma habitual por 460.000 pessoas e se tem conhecimento ainda que não seja a língua habitual de 12 milhões de pessoas. É a língua não oficial mais importante e facilita as relações econômicas do Brasil com os países do Mercosul. A Lei do espanhol aprovada em 2005, o oferece como primeira língua estrangeira de ensino nos colégios do país. Em muitas cidades fronteiriças, especialmente com Paraguai, Argentina, Uruguai e Bolívia, fala-se uma língua mista chamada “portunhol”.

Além do Mercosul, o Brasil tem como principais sócios comerciais da China e Estados Unidos. Levando em conta que o Brasil é atualmente a primeira potência econômica da região, o português é a outra língua importante para a América Latina, que convém conhecer e estudar.

O português

O português tem atualmente mais de 280 milhões de falantes. Atualmente é a língua principal de Portugal, Brasil, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Oriental, todos eles países que formam a Comunidade de Países da Língua Portuguesa CPLP. É a quinta língua materna mais falada.

Sua chegada à América Latina aconteceu no final do século XV e estabeleceu-se como língua oficial do Brasil em 1654. Em 2010, a população latino-americana que tinha o português como primeira língua era mais de 190 milhões de pessoas (Brasil) e seu estudo é obrigatório no Uruguai e na Argentina. Ademais, é falada principalmente nas populações fronteiriças com Brasil: Bolívia, Paraguai, Uruguai, Venezuela.

Assim como o espanhol, a língua portuguesa se estabeleceu cedo na região Ásia-Pacífico, com a expedição de Vasco da Gama em 1498, que chega a Calicut e a Goa (Índia), por isso, ainda possui uma pequena quantidade de falantes em Macao e em Goa; e também é falado em sua forma “criolizada”, em alguns setores da Índia, Siri Lanka, Malásia e Indonésia.

O português é uma importante língua para a extensão do comércio chinês, não só no Brasil, mas em territórios africanos nos quais a China pode ter interesse, como Angola ou Moçambique. De acordo com Bloomberg, é a 6ª língua mais importante para os negócios.

Tal e qual se diz no documento do Real Instituto Elcano, O valor econômico do português: língua de conhecimento com influência global (ARI), “É possível identificar um conjunto de cenários e atores nos quais o português pode ser, efetivamente, uma língua de conhecimento com potencial econômico, tanto nos diferentes países que compartilham a língua como idioma oficial, como no mercado global:

  • Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP): o português pode servir de ponte com a Europa, Brasil e Ásia, podendo gerar conhecimento para o capital social dos países desenvolvidos e os investidores
  • Brasil e Angola: dois mercados atualmente muito atraentes para o investimento estrangeiro
  • Portugal: apesar de sua menor dimensão, poderá ser um intermediário decisivo entre Europa, América do Sul, África e Ásia (China, Macao, Goa”)

As línguas da América Latina na rede

Desde o ponto de vista global, talvez a análise mais interessante é o que se faz das línguas utilizadas na rede. A rede não tem fronteiras e as relações entre as pessoas superam as do próprio meio geográfico. Pois bem, o espanhol na Internet é igualmente importante. Assim como afirma o Relatório do Instituto Cervantes, “Na Internet, o espanhol ocupa o terceiro posto como idioma mais utilizado, depois do inglês e do chinês. Sua presença na Rede registra um crescimento sustentado a mais de 800% nos últimos 10 anos, com uma distância crescente com relação ao japonês, ao português ou ao alemão.

Nas redes sociais, o espanhol também avança em sua expansão, tanto em número de usuários como em frequência de uso.

No Twitter, o espanhol já é a segunda língua mais utilizada depois do inglês. Situa-se na frente do português e do japonês, e a muita distância do árabe, do russo, do italiano, do francês e do alemão. México (em sétimo lugar) e Espanha (no posto onze) situam-se entre os países que registram um maior uso per capita do Twitter.

No Facebook, com mais de 80 milhões de usuários em língua espanhola, o espanhol também ocupa um dos primeiros lugares. E o português é a terceira língua mais falada no Facebook, depois do inglês e do espanhol, segundo os dados da Social Bakers.

A língua portuguesa também ocupa um lugar de destaque na rede. De acordo com os dados do Internet World Stats (dados 2011), é a quinta língua em usuários com mais de 82 milhões de pessoas a utilizá-la, e, ademais, tem um crescimento de uso de 900%. E o espanhol ocupa o terceiro lugar e tem um crescimento um pouco superior ao 800%:

As línguas indígenas

Se o espanhol e o português são línguas essenciais para as relações econômicas da América Latina e em temas de redes e comunicação, do ponto de vista do patrimônio cultural não há que esquecer das línguas chamadas “indígenas”. Não obstante, há que levar em conta que o espanhol e o português nem sempre se mantiveram afastados das línguas indígenas. Eventualmente misturaram-se com elas, tomaram algumas e as adaptaram. Deixaram outras e se adaptaram ao meio, assim como a população, pois a linguagem vive, cresce e se adapta.

As chamadas línguas indígenas constituem um bem histórico, único, às vezes escasso, muitas vezes em perigo de desaparecer. Tão necessárias de proteção como possa ser um patrimônio arqueológico ou musical. Portanto, sua recuperação e manutenção são obrigatórias.

As principais línguas indígenas da América Latina são o guarani, o aimara (aymara), o quechua (+quichua), o náhuatl e o maya. A quantidade de falantes é difícil de se assegurar, e os dados variam de fontes para outras. Pegamos os dados encontrados na Wikipedia.

• O guarani é a língua mais utilizada, com quase 8 milhões de pessoas que a falam principalmente no Paraguai, mas também no Brasil, Bolívia e Argentina. O povo guarani estende-se na margem do rio Paraná e do El Chaco.

• O quechua ou quichua é uma família de línguas originária dos andes centrais, que se estende pela parte ocidental da América do Sul através de sete países. É falada por mais de 10 milhões de pessoas divididas entre Bolívia, Peru, Equador, Argentina, Colômbia e Chile

• O aimara é a língua do povo indígena americano da região andina do lago Titicaca. A população falante do aimara ocupa o ocidente da Bolívia, o sul do Peru, o norte do Chile e o norte da Argentina (1,5 milhões de falantes).

• O náhuatl é uma língua azteca que é falada principalmente por nahuas no México e na América Central. Surgiu no século VII. Com 1,4 milhões de falantes no México, a maioria bilíngue com o espanhol. Seu uso estende-se desde o norte do México até a América Central.

• Línguas mayenses ou mayas, que têm múltiplas variantes. São línguas ameríndias derivadas do tronco mayense, que são faladas principalmente nos estados mexicanos peninsulares de Yucatán, Campeche e Quintana Roo, bem como em menor grau em Belize e no norte da Guatemala. É falada por cerca de 6 milhões de pessoas)

• O mapuche ou mapudungun (‘o falar da terra’), é o idioma dos mapuches, um povo ameríndio que habita o Chile e a Argentina (200.000 falantes).

• Guarani: É língua oficial no Paraguai, Bolívia, Corrientes (Argentina) e, em novembro de 2012, o Paraguai criou a Academia de Língua Guarani ou “Ava Ñe’e Rerekuá Pave” em guarani. É a primeira em sua categoria na América, que articulará a unificação dos critérios sobre o uso deste idioma nacional paraguaio junto ao espanhol. A Academia de Língua Guarani foi promovida através da Lei de Línguas, aprovada em 2010. Atualmente 92% da população paraguaia utiliza tanto o castelhano como o guarani. O *guarani, falado antes da chegada dos espanhóis na América, foi declarado idioma oficial na Constituição de 1992 e foi incluído obrigatoriamente no ensino. Na Carta Magna de 1967, já figurava como idioma nacional.

• Aimara (Aymara) O aimara é declarado idioma oficial na Bolívia pela Constituição de 2009. No Peru, o aimara também é língua oficial, de acordo com a constituição de 1993. No Chile, está especialmente protegido pela Lei Indígena Nº 19.253 de 1993.

• O Quechua foi declarado língua oficial no Peru em 1975. Ademais, no Peru criou-se a Academia Maior da língua Quechua em 1990, ainda que os estatutos não tenham sido aprovados até o ano 2009. A interpretação acadêmica do quechua tem certas contradições internas. Não obstante, a falta de atribuições orçamentas levaram os integrantes da Academia a uma greve de fome em 2012.

Línguas que desaparecem: na América Latina há centenas de línguas com risco de desaparecer, principalmente no Brasil. A Unesco publicou um mapa interativo, Atlas das línguas em perigo de extinção, e estes são os dados para a América Latina de línguas em perigo: Brasil: 190 línguas; México: 143 línguas; Colômbia: 68 línguas; Peru: 62 línguas; Bolívia: 39 línguas; Venezuela: 34 línguas; Guatemala: 23 línguas; Argentina: 18 línguas; Guianas: 16 línguas; Equador: 14 línguas; Paraguai: 12 línguas; Nicarágua: 11 línguas; Costa Rica: 8 línguas; Honduras: 8 línguas; Panamá: 8 línguas; Suriname: 8 línguas; Chile: 7 línguas; El Salvador: 2 línguas; Uruguai: 1 língua.

O mapa interativo da Unesco contém 5 graus de classificação: vulnerable; definitely endangered; severely endangered; critically endangered; extinct.

Esta é a imagem daqueles lugares com línguas indígenas com a classificação “em perigo crítico”:

Em resumo: a diversidade e riqueza linguística da América  Latina é digna de ser conhecida e estudada tanto do ponto de vista cultural, como do econômico e social. Parte desse mundo cresce e outra parte desparece para sempre.

Fonte: Infolatam

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