Aldeia Multiétnica promove aproximação com índios do povo Xavante (FOTOS, VÍDEO)
Brasileiros e estrangeiros têm a chance de conhecer os modos de ser, fazer e pensar do povo Xavante, convivendo com um grupo indígena da Aldeia Ripá (MT) – a Aldeia Multiétnica. A Sputnik Brasil conversou com um dos organizadores do projeto sobre sua importância para a aproximação do modo de viver indígena.
O Projeto cultural/social e turístico Aldeia Multiétnica no Alto Paraíso de Goiás proporciona que turistas brasileiros e internacionais passem por uma experiência única de conhecer o dia-a-dia e as crenças dos Xavantes, índios que vivem entre Mato Grosso e Goiás. A vivência chamada “Sementes e Sonhos na Visão Xavante” aconteceu de 11 a 16 de outubro, com um grupo de indígenas da Aldeia Ripá, do Mato Grosso, dentro da Aldeia Multiétnica, que fica a pouco mais de 200 quilômetros de Brasília.
Durante o evento “Sementes e Sonhos na Visão Xavante – Vivência com o Povo A’uwe”, os convidados participam de cantos tradicionais e devocionais, pinturas corporais, corridas com toras de buriti, caminhadas em busca de plantas medicinais, contos de histórias antigas ao redor da fogueira, troca de sementes nativas e discussões sobre o “sonhar consciente” na tradição A’uwe.
Juliano Basso, presidente da Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, um dos organizadores de evento, juntamente com o Centro de Estudos Universais, em entrevista à Sputnik Brasil, falou sobre o projeto, destacando que o “encontro de culturas tradicionais da chapada dos Veadeiros acontece desde o ano 2001.
“Sendo detentores de uma grande tradição desse território, de muitos e muitos anos, inclusive antes de o Brasil se tornar Brasil, os povos indígenas vivos, com seus costumes e crenças, são vários, mais de 300 povos, mais de 200 línguas, têm 13% ainda do território nacional, são as partes mais bem preservadas, e sempre souberam viver harmoniosamente junto à natureza. E a gente nunca teve muita oportunidade de ser educado e ter contato com os povos indígenas, porque eles ficaram em reserva de forma sempre inacessível. Então trazê-los aqui é uma ideia também de aproximar a sociedade brasileira ao pensamento dos povos indígenas, porque são vários povos, que habitam em várias regiões do Brasil”, declarou.
Juliano Basso explicou que essa é a primeira vez que os Xavantes são tema de uma vivência, sendo representados por membros da aldeia Ripá, do Mato Grosso.
Falou sobre que tipo de atividades os turistas passam durante a vivência com os índios, ressaltando a questão das crenças dos índios Xavantes, de acordo com a qual “a vida é feita da mesma matéria dos sonhos”, portanto a estrutura social e as decisões tomadas nas aldeias são fundamentadas nos mesmos. Por meio do sonho, os indígenas desta etnia recebem orientações e mensagens sobre como devem agir e quais decisões tomar.
“Essa é a primeira vez que o povo xavante vem fazer uma vivência única, eles já participam da aldeia multiétnica há alguns anos. Os xavantes são grandes conhecedores desse bioma cerrado e o tema que a gente colocou para nos aprofundar um pouco mais junto a eles durante essa vivência são os sonhos, a maneira como eles tratam os sonhos. Eles têm uma maneira muito peculiar e técnica de fazer isso, que são próprias deles, onde eles conseguem trabalhar dentro dos sonhos, em seus corpos diferenciados, que não são só os corpos físicos, e vão nos ensinar um pouco disso através das suas técnicas”, explicou.
“A gente vai passar muito pelo canto, a música, a forma de acessar os cantos xavantes é muito bonita. Também falar sobre a medicina tradicional xavante, a forma de encontrar no Cerrado plantas que nos ajudam a sanar algumas dificuldades físicas que a gente tem, que transformam em doenças, eles vão explicar como eles fazem isso. Vamos poder saber um pouco sobre a língua, sobre a cestaria, arquearia, de fazer arco e flecha, como todos esse materiais são tirados do Cerrado. Então a gente vai poder andar no bioma do Cerrado”, acrescentou.
Ao comentar os resultados dessa experiência para as pessoas, ele afirmou que a experiência proporciona um maior valor da cultura indígena por parte da sociedade.
“A gente tem uma deficiência no Brasil muito grande, há mais de 500 anos que se formou o Brasil com os povos indígenas, a gente não conseguiu compreendê-los com um pouco mais de profundidade e as suas sabedorias. Então há um preconceito muito grande, que se quebra logo de cara. São pessoas como a gente, com uma cultura diferente, com um grande conhecimento deste território, pois já estavam aqui há muito mais tempo do que a formação do Brasil”, destacou.De acordo com Basso, “essa aproximação é benéfica tanto para os povos indígenas quanto para os visitantes, que traz uma ancestralidade que é parte de todos nós brasileiros, e faz parte também de uma formação de futuro para o Brasil”.
Ao falar sobre o que representa para os índios esse contato com o homem urbano, ele afirmou que é muito difícil para os povos deles, tendo em vista que “era um território que era todo deles, então eles foram muitas vezes invadidos, muitas vezes violentados, mas eles fazem essa compreensão de aproximação”.
“Até mesmo porque próximo ás terras indígenas é um lugar de muito conflito, onde há interesses econômicos, sempre querendo mais territórios, e esses territórios pertencem aos povos indígenas, o que é demarcado pelo Constituição. Então aqui é um lugar de um novo território, onde a gente espera criar uma situação harmoniosa, onde a gente possa realmente se conhecer mais profundamente, tanto os povos indígenas quanto os não-indígenas, e criar laços de amizades, de interesses próprios, e isso eu acho que é benéfico, tanto para um quanto para outro. Então os povos indígenas vêm cada vez mais procurando fazer parte do projeto da aldeia, a gente tem vários povos que já participam e outros também que venham a participar nesses anos todos, acho que vai se criando para os povos indígenas uma possibilidade de geração de renda através da sua própria cultura”, observou Basso.
Fonte: Sputnik News
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