Bits para salvar línguas em perigo

Uma plataforma para encontrar e compartilhar informação sobre os idiomas que se extinguem. Um sistema informático que decifra a antiga língua ugarítica. Um tradutor automático para as línguas minoritárias. Estes são alguns dos sistemas desenvolvidos para preservar a diversidade idiomática.

Em uma corrida contra o relógio, já que a cada dia há menos pessoas que conheçam, falem e escrevam os idiomas em perigo de desaparecer, distintas iniciativas tecnológicas ajudam a reconstruir virtualmente a lendária Torre de Babel, na qual, segundo a Bíblia, se originaram os diferentes idiomas da Terra.

O Google impulsiona o “Projeto de Línguas em Perigo de Extinção”, (www.endangeredlanguages.com) que dispõe de uma plataforma web na qual os usuários podem encontrar e compartilhar informação sobre 3.054 línguas do mundo em risco de desaparecimento.

Segundo informa o blog oficial da empresa, o projeto conta com o apoio da Aliança para a Diversidade Linguística e oferece aos que estão interessados em preservar as línguas um local onde guardar e acessar pesquisas sobre o tema, compartilhar sugestões e realizar colaborações.

Uma equipe de colaboradores começou a fornecer conteúdos, que abrangem desde manuscritos do século XVIII a ferramentas modernas para ensinar idiomas, como vídeos e áudios, informa a revista digital espanhola “Tendencias 21”.

Para os diretores do projeto, Clara Rivera Rodríguez e Jason Rissman, “documentar as mais de três mil línguas que estão a ponto de desaparecer no mundo permitirá preservar a diversidade, honrar os conhecimentos de nossos ancestrais e enriquecer o futuro dos jovens”.

Segundo estes especialistas, “a tecnologia pode colaborar nestes esforços ao permitir que se encontrem gravações de alta qualidade dos últimos falantes de um idioma, ao conectar comunidades dispersas através dos meios sociais de comunicação e ao facilitar a aprendizagem de idiomas”.

Para Clara e Rissman, “o desaparecimento de uma língua colabora para uma perda de valiosa informação cultural e científica que pode causar um dano comparável ao da extinção de uma espécie”.

Atualmente, “as línguas estão desaparecendo a uma velocidade sem precedentes e, quando isso ocorre, se perde uma visão única do mundo”, afirma o site do projeto.

Segundo a equipe de “Línguas em Perigo”, “com cada língua que desaparece, perdemos uma enorme herança cultural: informação sobre o modo como os humanos se relacionam com o mundo, conhecimentos científicos, médicos e botânicos, e a forma de expressar o humor, o amor e a vida das comunidades”.

“Cerca de metade das sete mil línguas que existem no mundo correm risco de desaparecer durante os próximos cem anos. Mas hoje em dia temos a nosso alcance ferramentas e tecnologias que poderiam mudar as regras do jogo”, destacam os impulsores da iniciativa.

Ressuscitando os idiomas que agonizam – O blog do Google ressalta o êxito dos esforços para conservar a língua Miami-Illinois, que era falada nas comunidades de índios americanos estabelecidas no Meio Oeste dos Estados Unidos, embora as últimas pessoas que podiam falá-lo com fluência tenham morrido na década de 1960.

Anos depois, um cidadão da tribo Miami de Oklahoma, começou a aprender Miami-Illinois a partir de manuscritos históricos e atualmente colabora com a Universidade de Miami, em Ohio, para seguir revitalizando o idioma, publicar relatos, arquivos de áudio e outros materiais didáticos.

As crianças da tribo Miami estão aprendendo de novo a língua graças a este esforço e depois ensinam umas às outras.

Outro dos idiomas que se tenta salvar é o koro, uma língua até pouco tempo desconhecida que existe nas montanhas do nordeste de Índia e cujo número de falantes é inferior a quatro mil pessoas.

Outras línguas em perigo abordadas no projeto são o aragonês (Espanha), que hoje em dia poucas crianças aprendem, o nava (América do Norte) que conta com 120 mil falantes nativos e o ojibwa (Minnesota, Estados Unidos), de povos nativos da América do Norte junto com os navas e os cherokees.

Os idiomas incluídos nesta iniciativa e a informação sobre eles são proporcionados pelos catálogos ELCat, da Universidade do Havaí em Manoa, e The Linguist List, da Universidade Oriental de Michigan (Estados Unidos).

Por sua parte, pesquisadores americanos do Laboratório de Informática e Inteligência Artificial do Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT) e da Universidade do Sul da Califórnia desenvolveram um novo sistema informático que, em poucas horas, é capaz de decifrar grande parte de uma das línguas fenícias mais antigas: o ugarítico.

Segundo o MIT, este trabalho não só ajudará aos arqueólogos a decifrar os idiomas mais arcaicos, mas também poderia ampliar a quantidade de línguas dos sistemas de tradução automática como o tradutor do Google.

O ugarítico faz parte da família de línguas afroasiáticas que se desenvolveram principalmente no Oriente Médio e no norte e leste da África, e era usado em Ugarit, um centro comercial no litoral mediterrâneo da Síria de cerca de dois mil quilômetros quadrados.

Línguas do passado, técnicas do futuro – Sua escritura, de tipo cuneiforme e consonântico, já foi decifrada, e por isso o sistema americano pôde comprovar a eficácia de seu programa de tradução automática.

O software alocou corretamente 29 das 30 letras que formam o alfabeto ugarítico a suas homólogas hebraicas e, além disso, identificou corretamente 60% das palavras hebraicas com cognados (termos com uma mesma origem etimológica e distinta evolução fonética) ugaríticos.

A partir de uma série de relações ou denominadores comuns entre as diversas línguas, alfabetos e palavras, o software constrói mapas de símbolos que se repetem com frequência em um idioma e o compara com os mapas de símbolos de outra língua. A partir daí, modelos estatísticos de inteligência artificial determinam qual das dotações parece ser a mais coerente.

Por sua parte, pesquisadores do Instituto Tecnológico de Informática (ITI) da Universidade Politécnica de Valência (UPV) desenvolveram um novo tradutor automático de línguas minoritárias, que facilita a interpretação dos textos, seja qual for a língua em que estejam escritos, aproveitando as semelhanças que tenha com outras linguagens.

“Nosso objetivo era ajudar a entender aquelas línguas que atualmente os tradutores não são capazes de abranger”, explicaram Luis Leiva e Vicent Alabau, responsáveis pelo novo método de tradução, que lembram que mais de 10% das linguagens não podem ser assistidos por nenhum sistema de tradução.

Um inconveniente bastante habitual nos tradutores automáticos é que quando o sistema não tem informação sobre algumas palavras, então as deixa sem traduzir.

Para resolvê-lo, o sistema de ITI-UPV incorporou nas traduções informação de linguagens relacionada com o idioma destino, aproveitando a similaridade gramatical e sintática que existe entre as famílias de idiomas.

“A ideia é escolher aquelas palavras de outros idiomas para as quais se podem gerar uma tradução automática, de modo que se assemelhem o máximo possível ao do usuário que quer entender a mensagem”, acrescentam os especialistas.

Segundo Leiva “apesar das frases resultantes poderem parecer estranhas, já que gramaticalmente são uma mistura de vários idiomas, são entendíveis para quem fala a língua destino”.

Uma das vantagens do novo tradutor é que facilitará o acesso a conteúdos digitais, como livros eletrônicos e sites, que não podem ser traduzidos a certas línguas.

Fonte: Info

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