As línguas indígenas estão desaparecendo

Inpa montou um acervo digital com trabalhos acadêmicos que abordem as etnias indígenas. Foto: Reprodução/ NCPAM.

O Amazonas tem 29 línguas faladas por populações indígenas e pouquíssimos trabalhos destinadas a documentar e manter essa importante diversidade cultural. “Muitas línguas ao redor do mundo estão desaparecendo, inclusive as línguas indígenas brasileiras”, alerta Ana Carla Bruno, doutora em Antropologia e Linguística pela Universidade do Arizona (EUA) sobre o problema da perda da identidade dos grupos indígenas. “É preciso enfatizar também que deixar de falar sua língua não implica anular a identidade étnica do indivíduo, você não deixa de ser índio porque não fala mais a língua”.

Carla Bruno é coordenadora do projeto ‘Documentação de Línguas e Culturas Indígenas no Estado do Amazonas’, do Laboratório de Estudos Sociais (Laes), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). O número de línguas indígenas faladas no Amazonas foi divulgado pela Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (Seind), em dezembro 2010. Na época, a secretaria divulgou ainda que há 64 etnias indígenas no Amazonas. Faltam informações precisas sobre o número de falantes para cada língua e o grau de transmissão dessas línguas para as crianças, explica a doutora.

Para contribuir com a conservação das línguas indígenas faladas no Amazonas, o projeto está montando um acervo digital com trabalhos acadêmicos que abordem as etnias indígenas. O acervo é formado por cópias digitais de algumas teses e dissertações em línguas indígenas faladas no Amazonas, entre elas a Baniwa, Apurinã, Wanano, Hupda e Waimiri Atroari.

“O que tentamos desenvolver é orientar alunos, indígenas e não indígenas, como também montar um acervo digital sobre dissertações, teses e artigos que tratam das etnias indígenas do Estado. Através de contatos com colegas de outras universidades brasileiras e estrangeiras solicitamos que encaminhem cópia digital de seus trabalhos que versam sobre as línguas e culturas do Estado do Amazonas”, explicou.

COMO TER ACESSO

Ana Carla Bruno disse que faz parte dos planos do projeto disponibilizar o acervo na internet. Hoje, os trabalhos podem ser consultados diretamente no Laes do Inpa, na Avenida  André Araújo, número 2.936, Campus I, Petrópolis.

Atualmente, a equipe do projeto se dedica a compreender e a explorar como a língua vincula, conecta, afasta, indexa e diferencia agentes sociais e seus grupos através de suas relações, explorando os dispositivos e o papel da língua em vários contextos da vida social. “Na realidade, é observar como o sujeito social indígena ou não indígena é julgado, vinculado, associado ou estigmatizado pela variante linguística ou língua que ele fala”, disse.

Esse trabalho é feito em parceria com as pesquisadoras Thereza Cristina Menezes e Maria Helena Ortolan, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). ”A orientação de alunos trata da temática indígena em geral. Obviamente, minha especialidade é a relação língua e cultura, mas oriento alunos interessados em outras temáticas. Por isso, a parceria com as doutoras Maria Helena, que trabalha com política indígena e indigenista, e Thereza Cristina, que trabalha entre outros temas –  conflitos territoriais”, explicou.

INICIAÇÃO CIENTÍFICA

O projeto também orientou, por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), estudantes que pesquisaram sobre a situação sociolinguística dos Hixkaryana, no município de Nhamundá.

Houve ainda, estudantes que descreveram aspectos da fonologia e morfologia da língua Tenharim, em Humaitá e Manicoré; outros, que estudaram a presença indígena no Estado. O projeto apoiou também pesquisadores de universidades nos Estado Unidos e no Canadá que vieram desenvolver trabalho com grupos indígenas em São Gabriel.

VIOLÊNCIA

A pesquisadora citou que em Manaus, São Gabriel, Parintins, Lábrea e em municípios do Alto Solimões há forte presença indígena, porém, eles são enxergados com preconceito pelos moradores não indígenas. “O que eles estão fazendo aqui? Para que querem tanta terra? Que língua estranha eles falam?”, destacou Carla sobre a visão dos não índios. “No decorrer do trabalho, o que assusta são as formas de violência que os grupos indígenas sofrem”, disse.

No Amazonas, segundo a pesquisadora, por desconhecimento, existe uma resistência em relação à temática indígena. “O índio é aquele que está na aldeia e que está também pertinho de nós, nas universidades, nas nossas instituições, na vizinhança. Muitas pessoas perguntam: mas eles têm língua com Gramática igual ao Português e ao Inglês?”, disse.

Fonte: Ciência em Pauta

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