Países sul-americanos esperam estímulo ao crescimento no novo governo de Dilma
Países sul-americanos esperam estímulo ao crescimento no novo governo de Dilma
Não só os brasileiros vão estar atentos ao segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. O comportamento da economia brasileira terá impacto direto no desempenho econômico dos países vizinhos. Ao mesmo tempo, a prioridade que o governo brasileiro dará à sua política externa também vai marcar o rumo da integração regional.
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Se a China é o motor dos emergentes de um modo global, o Brasil é o motor da América do Sul. Quando esse motor funciona, ele facilita a integração regional. Mas esse motor ficou em ponto morto durante o primeiro mandato da presidente Dilma. O crescimento econômico brasileiro desacelerou e os principais sócios comerciais no Mercosul entraram em recessão. E o projeto mais ambicioso de integração regional, o Mercosul, recuou. A expectativa em 2015 é que o Brasil faça reformas estruturais para voltar a crescer e estimular, assim, o crescimento dos países vizinhos.
Dilma privilegiou G-20 e Brics
Para além do discurso político de integração regional, pouco se viu em avanços na prática durante o primeiro mandato da presidente brasileira. Dilma Rousseff deu pouca importância ao Mercosul e à União Sul-americana de Nações, a Unasul, priorizando outros foros como o G-20 ou o BRICS (formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Apesar da sintonia ideológica entre o Brasil e os seus vizinhos, ao descuidar da América do Sul, o Brasil abandonou uma premissa do então governo Lula de que ninguém tem projeção como ator global se não lidera nem marca o rumo na sua região.
Argentina e Venezuela são dois países em recessão e submersos nas suas urgências domésticas. Essa situação altamente prejudicial ao Brasil não deve ser alterada em 2015. Por isso, é ainda maior a expectativa dos vizinhos de que o Brasil e a sua diplomacia sejam um fator de integração, de apoio político e de estabilidade na região.
Brasil perdeu terreno
O protagonismo brasileiro foi ofuscado por outras economias que têm registrado altas taxas de crescimento no continente latino-americano, como os países da Aliança do Pacífico formada por Chile, Colômbia, Peru e México. Além disso, a China ganhou ainda mais terreno entre os países da região, em detrimento do Brasil.
Para complicar o cenário regional, a Argentina, principal destino dos produtos manufaturados brasileiros, passa por uma situação econômica difícil.
Em 2006, o Brasil investiu cerca de US$ 1,3 bilhão Argentina. Em 2013, foi praticamente um terço desse montante: US$ 446 milhões. Em 2014, apenas um ano depois, foram insignificantes US$ 64 milhões. A China aproveitou a necessidade urgente de recursos da Argentina para ocupar o terreno brasileiro nesse país. Facilitando ainda mais a presença chinesa, o senado argentino aprovou no dia 29/12 um convênio que dá às empresas chinesas acesso privilegiado a negócios em energia, minérios e agropecuária em troca de financiamento.
Ausência de Cristina Kirchner na posse
A maior ilustração do esfriamento das relações bilaterais Brasil-Argentina é a ausência da presidente Cristina Kirchner na posse da presidente Dilma nesta quinta-feira, 1º de janeiro, em Brasília. Segundo analistas em Buenos Aires, a fratura do tornozelo esquerdo da presidente argentina é uma boa desculpa para ela não comparecer ao evento. Antes desse problema de saúde, Kirchner já tinha avisado à Dilma que não iria à cerimônia de posse.
Ela enviou como representante o vice-presidente, Amado Boudou, implicado em várias denúncias de corrupção e indiciado em dois casos: um por corrupção e outro por falsificação de documentos. O envio de um representante tão desprestigiado a Brasília foi classificado pela oposição argentina como uma ofensa ao Brasil.
Em 2015, será o último ano de mandato da presidente Cristina Kirchner. Resta esperar uma nova fase das relações bilaterais com o futuro presidente argentino que será eleito em outubro. Até lá, Dilma Rousseff tem o desafio de fazer o Brasil crescer para voltar ao centro da cena regional.
Fonte: RFI Português